O DOM DIVINO DA DADIVOSA DÁDIVA
Por: Glenio Fonseca Paranaguá
"Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim é mister socorrer os necessitados e recordas as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar do que receber. Atos 20:35"
As primeiras atividades do ser humano foram cultivar e guardar o Jardim do Éden. Cultuar e cultivar são cognatos, isto é, têm a mesma origem. O culto e o cultivo precisam dos mesmos cuidados e apresentam resultados semelhantes: colheita, ceifa e coleta. “Não há substituto para o trabalho árduo”, nesta safra do sucesso com dignidade.
Ainda que o suor do rosto seja uma consequência do pecado, o trabalho é uma benção divina e, como disse Martinho Lutero, “o simples ordenhar de vacas pode ser feito para a glória de Deus”. O Criador dá comida a cada ave, mas não constrói os seus ninhos. A ordem é: se alguém não quer trabalhar, também não coma. 2 Tessalonicensess 3:10.
Charles Wagner foi perfeito ao dizer: “seria mais fácil contar as estrelas do que enumerar os esplendores do trabalho”. Alguém já disse, também, que o dicionário é o único lugar onde você encontrará sucesso antes de trabalho. Porém, o maior esplendor e o mais rico sucesso do trabalho é granjear para poder doar. Felizes são os colaboradores que cooperam de coração e dão com desprendimento.
As plantas dão frutos e os santos dão a vida e o produto dos seus ganhos com exultação. Ninguém traz coisa alguma quando chega ao planeta terra e ninguém leva nada quando sai dele. Ora, se a vida tiver outra dimensão, então “um ato generoso será sua própria recompensa”. Eu não preciso de galardões se houver profunda alegria na doação.
É do filósofo Francis Bacon: “dinheiro é como esterco: só é bom se for espalhado”. Um doutor em filosofia comentando este pensamento assegurou-me: “esterco amontoado fede; espalhado fertiliza. Se você quiser ver uma cultura viçosa e fértil, adube o seu campo; se quiser ter uma vida rica de significado, invista na redenção das pessoas”. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Marcos 8:36.
Segundo a Bíblia, o valor de uma alma é maior que o Universo. Aplicar os recursos materiais na proposta que visa à salvação eterna de uma pessoa é o maior investimento que se pode fazer aqui na terra. Talvez seja neste sentido que Jesus tenha dito: Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. Mateus 6:19-21.
A pergunta que não pode se calar é: como posso enviar um depósito do banco na terra para o banco do céu? Quem sabe não seja esta a resposta de Jesus! E eu vos recomendo: das riquezas de origem iníqua fazei amigos; para que, quando aquelas vos faltarem, esses amigos vos recebam nos tabernáculos eternos. Lucas 16:9.
Fazer amigos era o projeto final de Jesus. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer. João 15:15.
Além da evangelização dos pecadores, que é fundamental, há um empenho na aplicação das riquezas, no que diz respeito ao suporte para com os irmãos mais necessitados. No reino de Deus existe uma ênfase em cuidar dos pobres, de modo consciente.
O velho John Rockfeller disse certa feita, que: “o homem mais pobre que conheço é aquele que não tem nada mais do que dinheiro”. Ter riqueza e não saber distribuí-la é uma pobreza de alma sem limite. Ser rico sem afeto é ser afetado em sua ambição de ter. Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus? 1 João 3:17.
O pecado fez do ser humano um receptor por excelência. A sede principal de quase toda a humanidade é ganhar, receber, armazenar e usufruir sozinho, por isso, o trabalho tem apresentado uma faceta vil no sentido de só amealhar e aumentar os seus dividendos, solidificando o patrimônio do ambicioso que não quer compartilhar.
A bolsa egoísta e avarenta procura escancarar a sua boca ávida e, o seu fundo profundo parece nunca ter fim. Tudo indica que não há um basta para o desejo apaixonado de ter cada vez mais. Quem ama o dinheiro jamais dele se farta; e quem ama a abundância nunca se farta da renda; também isto é vaidade. Eclesiastes 5:10.
O problema desta ganância é o descontentamento íntimo. Um bolso cheio de dinheiro e um coração vazio de significado é a receita mais eficaz para se instalar um miserável. Por causa disso, “o cristão é chamado para tornar imateriais suas posses materiais”.
O apóstolo Paulo disse que: mais bem-aventurado é dar, do que receber. Por quê? O mar da Galiléia recebe, mas também dá. É um lago piscoso onde a vida fervilha. O mar Morto recebe apenas; consequentemente esse açude esbanja somente morte. O princípio é: Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido? 1 Coríntios 4:7.
Primeiro se recebe, para em seguida, se dá. A dádiva é um dom de Deus a quem recebeu graciosamente com desprendimento. Ninguém chegou ao mundo tendo alguma coisa. Tudo lhe foi dado. Até mesmo as suas conquistas. Sem os dons naturais, a inteligência, a saúde, as oportunidades... Neste caso, de quem é a glória? Com isto, quem sabe que o receber é tão-somente uma bênção divina, acaba sabendo dar com generosidade.
Alguns fazem caridade de má vontade, enquanto outros só fazem por dever. Mas os bem-aventurados se doam e dão com alegria. Uma dádiva sacada a interesse é puro comércio. Há muitos que contribuem visando o troco embutido. São os agiotas da fé.
Muitos que contribuem, têm os olhos fixos apenas na colheita. Semeiam o grão pensando somente na grana que vão receber em troca do seu plantio. Ofertam esperando o transbordamento da medida em suas tulhas entulhadas de cobiça.
É verdade que Deus nunca fica devendo a ninguém, pois a lei da semeadura e da ceifa é generosa, mas, também, é verdade que este tipo de culto não cultiva a dádiva dadivosa com alegria e abnegação. Estes cultivadores, de fato, estão querendo saber é da safra no paiol. A questão aqui sempre fica por conta do produto final no celeiro.
Os avarentos não dão nada a ninguém, pois a sua receita é sempre receber e poupar ao máximo. Os negociantes esperam pelo lucro e aplicam cada centavo de acordo com os resultados. Porém, os bem-aventurados dão com júbilo, uma vez que a sua trajetória é um verdadeiro jubileu de aleluia. Eles são sábios no dizer de Jim Eliot, quando “abdicam daquilo que não podem manter com o objetivo de ganhar aquilo que não podem perder”.
A felicidade dos contribuintes bem-aventurados é a bem-aventurança de contribuir com liberalidade, generosidade e regozijo. Alguém disse que: “a maneira de dar vale mais do que o que se dá”. Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria. 2 Coríntios 9:7.
Há três princípios básicos que nortearam a história da dadivosa dádiva na vida da Igreja. Primeiro: ganhe tudo o que você puder, honestamente. Segundo: economize tudo o que você puder, abertamente. Terceiro: dê tudo o que você puder, generosamente.
Observemos alguns outros princípios que devem orientar a nossa atitude na maneira como contribuímos. Segundo Ambrósio: “é mais importante dar o que somos do que o que temos”. De acordo com George Muller: “Deus julga o que nós damos pelo que guardamos”. E conforme Peter Marshall: “contribui de acordo com tua renda, para que Deus não torne a tua renda segundo a tua contribuição”.
Alexandre Pope dizia com relação à contribuição à igreja: “dar não é propriamente um modo de levantar dinheiro; é a maneira de Deus levantar homens”. De fato, Deus não precisa de nada, muito menos de dinheiro. Ele criou o Universo sozinho. Nós, sim, é que precisamos ser libertos da ganância e da avareza.
Se a fé de uma pessoa não afeta a sua bolsa, então a sua fé é uma balsa furada e ela vai afundar em meio a sua navegação. Mas, à proporção que a bolsa vai se esvaziando, o coração, concomitantemente, vai se enchendo de contentamento, por ser parceiro no investimento que promove a redenção dos pecadores, que Deus ama apaixonadamente.
Há um adágio irlandês que diz: “três coisas não podem ser ensinadas: generosidade, poesia e uma voz sonora”. O velho Adão não é generoso, é apenas “conveniente”. A verdadeira generosidade é um dom da graça ao novo homem em Cristo. Se formos novas criaturas, seremos generosos na semeadura e liberais na colheita. Note apenas este axioma bíblico. Porventura, fitarás os olhos naquilo que não é nada? Pois, certamente, a riqueza fará para si asas, como a águia que voa pelos céus. Provérbios 23:5.
Mais algumas observações pertinentes ao assunto, levantadas por um internauta inquiridor. Onde devo contribuir? – Onde você está recebendo a comida espiritual. Você deve ofertar na cocheira que o nutre espiritualmente. Mas aquele que está sendo instruído na palavra faça participante de todas as coisas boas àquele que o instrui. Gálatas 6:6.
Mas eu não sou membro desta comunidade onde estou sendo alimentado. Eu devo contribuir com ela? – Só há uma Igreja na terra. A Igreja de Jesus Cristo. Você deve compartilhar os bens materiais com quem lhe compartilha os bens espirituais.
E se houver um ministério mais necessitado? Eu posso contribuir ali? – Imagine um proprietário de dois restaurantes; um bem frequentado e lucrativo, o outro, deficitário. Eu como sempre no primeiro, mas quero pagar no segundo. Agora, pergunto eu: está certo? É correto pagar a conta e dar a gorjeta ao garçom do restaurante onde não tomei a refeição? Sua resposta foi um sonoro – não.
Como fazer com este carente e deficitário? – Esta é uma questão do proprietário. Vejamos como o apóstolo Paulo esclarece o auxilio que a igreja gentílica deveria à igreja da Judéia, nestes termos: Isto lhes pareceu bem, e mesmo lhes são devedores; porque, se os gentios têm sido participantes dos valores espirituais dos judeus, devem também servi-los com bens materiais. Romanos 15:27. Há uma cooperação na Casa de Abba.
Agora concluindo, anotemos este último item. O dom divino da generosidade é a manifestação da graça de Abba promovendo as dadivosas dádivas em seus filhos, para que sejam participantes no suprimento da sua própria Casa. Aquele que dá com alegre desprendimento é alguém liberto, que dá sem ostentação e fora dos holofotes. Concorda?