terça-feira, 1 de novembro de 2016

ENTRE CORDEIROS E LOBOS

Um cordeiro, à margem do regato, bebia sossegado, quando apareceu um lobo um pouco acima, reclamando da água turva. Sem saber como poderia tornar lamacenta a água, o cordeirinho, surpreso, contesta a possibilidade, já que encontrava-se a abaixo. O fato deixou o lobo sem argumento, e, logo procurou outro pretexto. – Então, foi no ano passado. – Como? Eu nem era nascido. – Com certeza foi seu irmão, insiste o lobo. – Mas eu não tenho irmão, retruca o cordeiro. – Ah! Agora sei, foi seu avô. Esta velha fábula de Esopo reflete a motivação das intrigas. Temos que achar a mola que estimule nossas impertinências. Os lobos sempre serão inimigos de cordeiros e, muitas vezes, sem razões, acharão uma razão irrazoável para arrasar o rebanho. Nesse mundo do “homo lupus homini” – em que o homem é o lobo do homem, a coisa é similar. Há dois tipos de seres humanos: os lupanóides e os cordeiríneos. Os primeiros são descendentes do velho lobo, que mata, rouba e destrói, enquanto o outros procedem da geração do Cordeiro imolado no Calvário. Lobos jamais se dão com cordeiros. O lobo e o cordeiro não pastam juntos. A comida de lobo é carne sangrando; a dos cordeiros, é a relva verdejante junto às águas de descanso. O menu define o apetite. Sabe-se que um lobo pode vestir-se de ovelha, mas o seu cardápio não muda. Ele nunca come feno. A malícia faz parte de sua refeição. Os lobos são cruéis na sua carnificina. Jamais ouvi falar de cordeiros que tivessem prazer em carnalidade. E quando deram farinha de osso aos bovinos e ovinos, gerou a doença da vaca louca. O Pão nosso de cada dia é o único alimento do rebanho do Altíssimo. Nunca soube de um cordeiro se restaurando em alguma carniçaria, pois as ovelhas de Deus se alimentam de Cristo. A única carne que comem é a de Cristo e o único sangue que bebem é o de Cristo. A vida é Cristo. O pão é Cristo. O vinho é Cristo. A meta é Cristo e somente Cristo. Quando vejo lupanóides, no meio do redil, disfarçados de ovelhas e, dando a entender que podemos comer algo além de Cristo, me assusta ver cordeiríneos, jovens, abanar o rabo em sinal de aprovação ao cardápio do humanismo. Temo que assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, muitos sejam corrompidos na mentes e se apartem da simplicidade e da pureza devidas a Cristo. Os lobos querem perturbar o rebanho com afirmações que subtraem de Cristo a sua suficiência. Todos nós temos que estar bem vigilantes, pois satanás usou Pedro para retirar Jesus da via Crucis. Não restam dúvidas que todos nós estamos sujeitos aos ardis do engano. Por isso, precisamos ter os ouvidos atentos a todo sibilo do humanismo no seio da igreja. Se conhece a ovelha de Cristo, não tanto pelo berro afinada, mas pela lã lanosa do amor revelado por Cristo. Do velho mendigo do vale estreito, Glenio Fonseca Paranaguá

PODE OU NÃO PODE ?


A SOBERANIA NO LIVRO DE DANIEL - 68


O OUTRO EVANGELHO


sexta-feira, 14 de outubro de 2016

MELHOR O PERDIDO DE VERDADE DO QUE O SALVO DE MENTIRA

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No princípio criou Deus o céu e a terra. Gênesis 1:1
A escritura do ponto de vista textual inicia com esta frase simples, porém extremamente profunda, como profundo é o abismo da alma humana onde repousa oculto e impenetrável os seus segredos, suas reais motivações e por fim seu RG. Isto na verdade está relacionado àquilo que podemos entender como sendo a construção que cada indivíduo faz de si a qual damos o nome de eu.
Nestes vales abissais e escuros nem mesmo os próprios indivíduos ousam penetrar, visto que o medo de encontrar-se consigo gera um profundo desconforto. Além disto, os monstros que habitam estas profundezas são cheios de sortilégios, só de supor os tais, é o suficiente para gerar em nós o pânico, em face da expectativa ruim que alimentamos deste lugar que Jeremias descreveu como terrível sombrio e enganoso. O coração humano é Terrivelmente sombrio e enganoso, um enigma que ninguém consegue decifrar. Jeremias 17:9. (Versão A mensagem).
Diante deste medo do profundo, o que nos resta é a vastidão rasa da superfície, onde em detrimento da realidade íntima, tudo parece mais palatável. E acabamos por sucumbir a esta pseudo-realidade aparente e exposta, sem se dar conta que em meio a esta vastidão nos perdemos na construção de uma identidade e uma realidade igualmente falsas.
Para termos uma noção do que queremos dizer, esta realidade e identidade forjada na epiderme, quando comparada ao todo de um túmulo por exemplo, não passa da cal que o reveste, como Jesus bem a descreveu: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia. Mateus 23:27.
Toda construção humana de si e de seu mundo igualmente caído é assim, falsa, portanto, sem sentido. Só ganha um verniz de sentido, no mundo das superfícies com a luz apagada. Mas este sentido que o mundo traz, não subsiste a uma unha afiada, que dirá, permanecer diante da luz da palavra de Deus que é espada, e de sua penetração. Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. Hebreus 4:12.
A grande dificuldade gerada pela luz é o fato de que ela a tudo revela. Sendo assim, diante da palavra de Deus não existe meio termo, as coisas ficam bem definidas, como Jesus disse: Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha. Lucas 11:23.
Quando esta é a circunstância, a única coisa que nos resta é praticar a verdade ou odiar a luz.Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus. João 3:20-21.
Esta é a grande razão para que muitos rejeitem ao evangelho, o ódio à luz e a reprovação de suas obras feitas no lusco-fusco. A mesma obra que no mundo das trevas poderia ser considerada como boa, da qual provinha minha identidade de bom, igualmente falsa. Agora diante da luz se verifica como má na verdade, em virtude do olhar D’aquele que a tudo penetra.
Este era o caso, por exemplo, de alguns que se julgavam prepostos de Jesus, ainda que nunca tiveram suas carteiras registradas e nem mesmo passaram na firma para conhecer quem manda. Estes curavam enfermos, expulsavam demônios, pregavam, e a tudo isto que poderíamos qualificar como bom, o olhar profundo do verbo chamou de iniquidade. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. Mateus 7:22-23.
A verdade é que ninguém é bom. Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é Deus. Lucas 18:19. E paradoxalmente, a única maneira de sermos libertos desta condição, é aceitando a verdade de Deus a nosso respeito. E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.João 8:32. Ou seja, quando eu me reconheço mau e carente de uma bondade que eu não sou e não possuo, é que, Aquele que é bom verdadeiramente, pode ser em mim aquilo que não sou.
O anseio pela bondade, que em nós vira maldade, o desejo de ser bom sem competência para isto como Paulo descreve bem: Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse prático. Romanos 7:19. Apontam para o fato de que não foi sempre assim. E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Gênesis 1:31a.
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O que surge então é a ideia lógica de que toda a raça humana ficou sem referência, cega, desorientada ou como o termo teológico trata, perdida. Perdida na sua identidade, na falta de sentido da vida, perdida sem direção e sem propósito onde cada um tornou-se um fim em si e um caminho para si, indo de algum lugar para lugar algum. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho. Isaías 53:6a.
A profundidade do texto inicial se da justamente neste ponto. Deus é antes do princípio. E se quisermos descobrir quem somos, temos que transcender o próprio tempo, bem como a própria criação, e saber que antes mesmo do tempo existir Deus é, caso contrário não saberemos quem somos, pois nossa identidade reside em Deus.
O texto de Gênesis segue mostrando o Deus que cria do nada. E disse Deus: Haja luz; e houve luz. Gênesis 1:3. Isto aponta para o poder que Deus tem e para o tipo de estética que ele prática. Mas quando a trindade se expõe por dentro, quando ela manifesta seu íntimo ela o faz por meio de um desejo. E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. Gênesis 1:26.
O desejo de Deus é se reproduzir, é expandir sua família, é se dar. Tudo isto aponta para um Deus que é bom, que não busca seus próprios interesses, que não se contenta com o individualismo, que ama a relação, que esta disposto a servir, a criar para doar, que tem autoridade, mas que a quer compartilhar. Ou seja, tudo isto aponta para a realidade de um Espírito que esta em Deus e que é Deus, e que como Deus é eterno.
Este é o Espírito do Cristo crucificado, que atuava antes da criação, na eternidade onde Deus é a única realidade sustentando a própria criação que viria a existir em sua disposição à cruz que é natural a Deus. O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós. 1 Pedro 1:20.
Porém, no mundo das trevas, dos homens em busca de seus holofotes, nenhum deles podem ser acendidos em direção a cruz. Uma vez que nos perdemos no mundo das superficialidades e das trevas, perdemos o nosso “telos” e passamos a contrariar a imagem de Deus como a palavra de Deus nos descreve: Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons. Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos prazeres do que amigos de Deus. 2 Timóteo 3:2-4.
O que nos tornamos, só pode ser mudado à medida que somos conformados ao Espírito de Deus, o Espírito da cruz. Se a nossa identidade esta em Deus, e a revelação de Deus tem seu ápice na cruz, somente na cruz em Jesus é que podemos ter ela restaurada. A ressurreição de Jesus o Cristo é o atestado de que Nele nós podemos ser enfim restaurados à nossa verdadeira identidade.
Por esta razão a verdade a nosso respeito só pode ser encontrada na mentira sobre Jesus. A mentira sobre Jesus o levou para a cruz, e a verdade a nosso respeito nos leva para o mesmo lugar. Nela o falso eu morre em Cristo, para que na ressurreição de Jesus Cristo o novo homem criado em Deus poça nascer novamente. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos. Romanos 6:8.
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Se quisermos saber quem fomos criados para ser, precisamos da luz. A verdadeira luz que vindo ao mundo, ilumina todo homem. João 1:9. Só assim nossa vida terá sentido e orientação. Jesus é o caminho que nos leva de volta ao nosso lugar e o nosso lugar é o nosso Pai. Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. João 14:6. Neste contexto de caminho, que é ao mesmo tempo verdade e vida, não cabe mais a desorientação, a virtualidade ou a mentira que nos mantém unidos a morte. Cabem sim, a esperança antecipada pela fé de quem somos em Jesus.
Uma vez que, diante da palavra de Deus toda aparência é aniquilada, tendo em vista que aquilo que Deus quer desenvolver conosco é relação real e não interação virtual. E no relacionamento com Deus não há espaço para o fingimento ou para atores. Ele caça gente de verdade para os tirar das trevas que é, a superfície da existência, onde gastar a própria existência caçando Pokémons, faz sentido para milhões de pessoas.
Naquele que possui a graça bruta,
Alexandre Chaves.

DESCONSTRUINDO A RELIGIÃO (2016) - 128


quinta-feira, 6 de outubro de 2016

O DEUS QUE ME AMA


DEUS JAMAIS PERDE O CONTROLE


IGREJAS CRISTOCÊNTRICAS = IGREJAS MISSIONAIS


#LUZ - 135 - ORAÇÃO E COMUNHÃO


CRISTO EM MIM.COM VOCÊ - 187 - O VERDADEIRO REINO


CAFÉ E FÉ - 153 - ASSIM NA TERRA COMO NOS CÉUS


LIDANDO COM O MEDO E COM A ANSIEDADE


segunda-feira, 19 de setembro de 2016

PACIÊNCIA - VIVENDO O EVANGELHO



“Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração;” (Rm 12:12)


Viver uma vida centrada em Deus, com busca constante de santidade, fugindo do pecado, desenvolvendo dons, evangelizando, dedicando-se ao Reino - tudo isso é apenas mera e fraca retribuição pela salvação que recebemos. Ainda ssim, para alguns é um fardo ou um fanatismo inaceitável. Para mim é um prazer e uma satisfação. Mas, isso não nos insenta de passar tribulações neste mundo. Não estou afirmando que Deus tenha prazer em nos atribular, mas é necessário para nosso crescimento e aprendizado que Ele permita que passemos por certas coisas.


Ainda que nesta vida não possamos compreender determinadas situações desagradáveis, precisamos delas para aprender algo. Eu não sei o que é, mesmo porque talvez para mim a mesma prova ensine uma coisa diferente do que para outra pessoa. Mas a mesma doença que mata um fortalece outro. A mesma traição que a um foi quase indiferente ao outro foi mortalmente insuportável. A certeza é a de que tem algo para ser aprendido, desenvolvido, algum crescimento está encomendado e a prova ou tribulação é o mensageiro.


Para quem ler este texto pode parecer que foi escrito por alguém que nunca sofreu na vida, que vive num aquário protegido de tudo e de todos. Mas pode acreditar, nada é mais falso. Sou um homem que passou por muitas situações neste mundo que para outros seriam insuportáveis. Não passei por outras que para mim o seriam, é verdade. Mas a constante nisso tudo é sempre a mesma - se perseverarmos aprenderemos. Viver um evangelho verdadeiro é a busca constante e interminável pelo aperfeiçoamento. Ser perseverante é a chave. Este texto não diz para se alegrar na tribulação, não diz para agradecer por ela, não diz para comemorar a vitória depois dela, não diz nem para enfrentar de boa vontade - tudo isso tem seu papel, seu momento e sua atitude corretos, citados em outros textos. Aqui nossa admoestação é para ser paciente, perseverante, persistente, tenaz.


A paciênica é filha da espera com a disposição. Esperar é ter paciência, mas desde que com a disposição correta. Esperar murmurando ou amaldiçoando não é paciência. Ter boa vontade com pavio curto e atropelar, não é paciência. Ser paciente na tribulação é encarar a tribulação, esperar ela dar seu tempo, mas manter a alma na disposição ou inclinação correta. Vejo e convivo com muitas pessoas que esperam a tribulação passar se martirizando, murmurando ou mesmo se rebelando. Isso não é paciência e estica o tempo de tribulação, pode acreditar.


Dias atrás ouvi uma palavra que me marcou. Um jovem dizia “eu queria estudar medicina, mas quando penso que vai levar 8-10 anos para eu ser um médico eu desanimo”. O seu conselheiro, mais velho e sábio lhe disse “e se você não estudar medicina esses 10 anos não vão passar? Sabe qual a diferença entre fazer e não fazer? O resultado. O tempo vai passar igual, se fizer outra coisa daqui 10 anos você será 10 anos mais velho, médico ou não”. Estou digerindo esta palavra desde então. Se encaramos as tribulações com paciência podemos vencer e o sofrimento será certamente abreviado. Encarar de forma impaciente só vai piorar.


Vivamos um evangelho que nos anima e motiva a prosseguir, pacientemente, mesmo diante de tribulações. O evangelho não nos vacina nem nos blinda contra elas, mas nos ajuda a vencer.


“Senhor, não consigo imaginar algum motivo para eu me alegar ou me motivar que não venha de Ti. Se o Senhor não me fortalecer qualquer desafio será grande demais para mim.“  Mário Fernandez - www.ichtus.com.br




CRISTO EM MIM.COM VOCÊ - 185 - A NOVA ORDEM MUNDIAL


CAFÉ E FÉ - 151 - PROLONGANDO O MEU CASAMENTO


DESCONSTRUINDO A RELIGIÃO (2016) - 125


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

O REI OCULTO

O orgulho espiritual é o mais dissimulado dos pecados, pois vem sempre bem camuflado de humildade. Poucos de nós tem a percepção de sua altivez pessoal. Não há mimetismo mais ardilosa do que o orgulho espiritual vestido com trapos e fiapos.
Eu não confio na minha humildade. Muitas vezes me arrasto no discurso, mas, a minha cabeça busca uma coroa no trono. Falo mansamente, embora a minha pretensão de ser visto, esteja gritando no íntimo. Digo que sou mendigo e reajo como Sua Alteza. É um paradoxo essa vida de ser um pobre de espírito. Minha fala é de humildade, todavia, o bafo de um dragão-de-Komodo denúncia meu orgulho espiritual.
O orgulho é o desejo pervertido pela notoriedade. Sou soberbo mesmo quando estou me escondendo sob os mantos da invisibilidade, a fim de que os outros saibam que eu sou um “ilustre” desconhecido. Fico assustado quando tomo uma foto de um grupo em que estou ali no meio e logo me vejo procurando a mim mesmo para olhar como estou.
Tenho pedido ao Senhor que me revele quem sou de verdade. Muitas vezes eu finjo que sou humilde, mas quando vejo minha imagem refletida no espelho do poço, logo percebo o narcisismo da modéstia rubra de brio. Eu acho que tenho direito e que devo ser tratado com deferência. Minha humildade sempre traja roupas de gala.
Vi pseudo mendigo dançando a baiana porque o seu contracheque não refletia a expectativa do seu cachê. Vi a minha conduta arrogante diante da cena julgando o outro com presunção de quebrantamento. Orgulho na ação e na reação – tudo com cara e traje de singeleza. Que coisa mais ridícula é a postura da distinção presumida.
Sto. Agostinho disse: a humildade é a qualidade que aquele que tem não sabe que tem, pois se souber, ficará orgulhoso de tê-la. Orgulho é tão persistente e resistente, que até com a humildade ele quer levar vantagem. É impossível alguém ser humilde, sem o risco de se orgulhar com sua humildade. Ouvi um missionário orar: Senhor, orgulho-me da minha humildade. Como pode? Água e fogo se aniquilam; ou a água apaga o fogo ou o fogo consome a água. Orgulho e humildade são incompatíveis.
Só o espírito da cruz tem condições de produzir a verdadeira humildade, sem promover o orgulho. Não se trata apenas de uma doutrina certa da cruz, mas do espírito da cruz. Se não houver a morte para si mesmo, não há lugar para Deus em nós mesmos. Precisamos mais do que conceitos corretos. Precisamos morrer para os nossos direitos.
Fui a um velório em que a viúva não se conformava com a morte do marido, e, em desespero, arrancava maços de cabelos do defunto. O morto tinha sido um homem muito forte, mas, não esboçou nenhuma reação. Mendigos, nós já morremos em Cristo? No espírito da cruz não há lugar para a soberba.
Do velho mendigo do vale estreito,

Glenio Fonseca Paranaguá

SOFRÊNCIA GOSPEL