quarta-feira, 29 de maio de 2013

GOTAS DE GENEROSIDADE XII

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Ouvi de uma dama da elite: “tem assaltantes no meio gospel atacando-nos. Muitos líderes se aproximam de nós, que temos recursos, para nos extorquir”. E eu concordei. Há uma turma por aí usando a Bíblia como se fosse arma de alto calibre apontada para a cabeça da pobre vítima, sacando o que poder, em nome de Deus. Discorda? Prove o contrário.
Esse crime é antigo. Os profetas já denunciaram há muitos séculos: Comeis a gordura, vestis-vos da lã e degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas. Ezequiel 34:3. Os negócios da “fé” fervem no mundo da trapaça, enquanto levam os ingênuos à escravatura do medo. Muitos são enganados com a lábia dos larápios da religião e caem no mesmo golpe das velhas indulgências ou dos carnês recentes, cheios de promessas fantasiosas.
A questão é séria e seria bom analisarmos alguns aspectos deste problema. Como já foi dito em outra Migalha, Deus não precisa de dinheiro, mas nós precisamos ser tratados no quesito da generosidade. A árvore frutífera, sem frutos, deve ser arrancada. Uma vida que não se doa ou não dá nada a ninguém é uma biografia mofada de ganância, que precisa de um tratamento especial para não perecer sufocada pelos cuidados deste mundo.
A bênção do SENHOR enriquece, e, com ela, Ele não traz desgosto. Prov. 10:22. E aí! Quem foi abençoado pela graça plena, não pode sonegar aos carentes e aos projetos da Verdade algumas gotas das muitas que lhe foram dadas pela generosidade do Pai. Se eu for agraciado com a fartura de cima, nunca posso olvidar os menos favorecidos aqui em baixo. Dizia Peter Marshal, “A medida da vida não é a sua duração, mas a sua doação.”
A existência dos aproveitadores da boa fé, jamais poderá limitar a bênção da frutificação no Reino de Deus. Sou um abençoado para abençoar, para isso, careço de discernimento para o assunto. Não gostaria que os maus exemplos impedissem o meu bom prazer em ser um dos instrumentos magnânimos, num mundo onde a rede da malícia prevalece.
Essa é uma desculpa esfarrapada que já ouvi. – Não contribuo com a Igreja porque há um bando de bandidos assaltando dos púlpitos, empunhando a Bíblia. Ora, se isto é verdade, é também verdade que há um grupo de alcançados pela graça alcançando uma multidão de falidos espirituais e carentes de toda sorte, com a generosidade de quem não admite permanecer paralítico por causa do mau testemunho desses 171 da religião.
Alguém já disse: “a Multidão é um monstro que tem a soma de tudo dos homens, menos o discernimento”. Abba, não te peço o conhecimento dos filósofos, mas o discernimento dos sábios, para que eu não venha tornar-me imobilizado pela inércia, filha dos equívocos.
Como Mendigos da graça somos ainda aspirantes ao posto de lava-pés, contribuindo com esmolas liberais, a fim de financiar, com alegria, os projetos que têm o selo da Cruz sob o discernimento do Espírito.
No amor do Amado, o velho mendigo do vale estreito, Glenio

DESCONSTRUINDO A RELIGIÃO - 12


terça-feira, 14 de maio de 2013

GOTAS DE GENEROSIDADE XI

Velho mendigo, me ajuda nessa trajetória – foi o que me sinalizou a mendiguinha. E ela foi logo na veia. – Você tem falado muito de generosidade e eu quero desprender-me dessa minha clausura em compartilhar das bênçãos que caem na minha mesa. Como eu posso fazer e onde eu devo fazer? Há tantos aproveitadores no caminho e fico sem saber. De fato, esta é uma questão importante. Não podemos ser indiferentes, mas também, não devemos agir indiscriminadamente. Critério é um atributo de quem precisa ser criterioso. Se eu não sei quem está por trás daquela obra, nem quais são os objetivos que governam a organização, então, devo levantar os dados. Creio que sou responsável por toda missão que ajudo manter. Ao colocar “fé” na farsa sou culpado tanto quanto os seus promotores. Ser generoso não significa contribuir com qualquer evento que se me apresenta bonito na passarela. Volto a dizer: sou colaborador e cúmplice de tudo o que não estiver dentro dos sãos propósitos de Deus. A minha participação nunca será neutra. Apesar de Deus não precisar de coisa alguma e, consequentemente, não necessitar das nossas contribuições, o alvo está sempre voltado às pessoas que Deus ama. Por isso, é preciso avaliar a causa e os casos em que essa missão estiver envolvida. O primeiro requisito para uma análise é a eternidade. A minha generosidade está atrelada à salvação eterna de uma pessoa? Acredito, como Jesus, que o maior investimento neste mundo está na salvação de uma alma. Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma? Mateus 16:26. O seu investimento generoso contempla àqueles que estão labutando em prol da plena libertação das pessoa em sua dimensão eterna? Mas, por favor não me venha com certos argumentos: “eles também pregam a Bíblia. Muitos até falam em nome de Jesus”. Lembre-se, porém, que o Senhor Jesus disse a esse respeito: nunca os conheci. Um segundo item é a necessidade. Precisamos enxergar os carentes de verdade. Estou falando aqui dos indigentes sem bolsa, dos órfãos sem suporte, das viuvas sem pensão e dos estrangeiros sem abrigo. São as classes enumeradas nas Escrituras como legítimas beneficiárias da generosidade. Não me tragam, nesta lista, os mendigos profissionais nem essa gente apadrinhada por política que compra voto e veta a dignidade do trabalhador. Normalmente, aqueles que nunca se importam com os que não têm nenhuma importância no âmbito econômico, são exatamente os fariseus, religiosos de plantão, ou os políticos sujos que usam os pobres para, de alguma forma, levarem vantagens pessoais, fazendo da generosidade de outros uma plataforma para se locupletarem em suas ambições. Como mendigos da graça somos movidos pelo Espírito para sermos parte da solução dos sofrimentos alheios e nunca parte deles. No amor do Amado, do velho mendigo, Glênio Fonseca Paranaguá

A GRAÇA DE SER GENTE


NÃO TEMAS O QUE TENS DE SOFRER


quarta-feira, 8 de maio de 2013

DESCONSTRUINDO A RELIGIÃO - 10


Os Efeitos Eficientes da Cruz


cruz

Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus. Gálatas 6:17
Todos os seres humanos trazem do berço o sinal de Adão, isto é, a presunção de serem como Deus. Essa rebeldia adâmica é denominada de teomania, porque reflete o desejo de independência de Deus, tentando converter a criatura como se fosse o Criador. Nossa história é assinalada pela aspiração ao trono e todos os descendentes da conspiração da serpente vivem serpenteando nas escadas em busca dos lugares altos.
A raça humana sofre da síndrome de altar. Há uma epidemia generalizada de grandeza fomentando a glória do pináculo. O alpinismo da notoriedade e a ascendência aos postos de comando são metas que estimulam uma laia governada pelos desejos mais ardentes de elevação, tecendo no jogo do poder uma teia viscosa de política sórdida, que garanta um jirau na caça ao auge da posição.
Ninguém neste mundo está imune ao veneno da cobra. A teomania é percebida até mesmo na sujidade da pirraça. O cantador de viola dizia em seus versos de pé quebrado: “Eu sou maior do que Deus. Maior do que Deus eu sou. Eu sou maior no pecar. Porque Deus nunca pecou”. Para ele era atraente ultrapassar a Deus nem que fosse à vileza.
Entretanto, Paulo se apresentou aos gálatas como alguém que carregava em seu corpo as marcas de Jesus. Para ele havia algo mais significativo do que a estimativa do pódio. Ele podia até subir numa plataforma, desde que a glória fosse conferida apenas ao Senhor. Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! Romanos 11:36.
As evidências da cruz veem assinaladas pelo esvaziamento do ego. Uma pessoa que foi salva de verdade por Jesus, significa que ela foi salva de si mesma. Aquele que se estima não tem a menor estimativa do que é a salvação, uma vez que ela liberta a pessoa de si mesma. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.2 Coríntios 5:15.
A morte solidária de Cristo com o pecador tem como finalidade principal alforriar o escravo de si mesmo, a fim de levá-lo a viver para Deus. O pecado nos fez sujeitos a um déspota insuportável, o nosso próprio egoísmo. Ninguém é mais insatisfeito do que o ególatra, e ninguém pode ser mais contente do aquele que foi emancipado de si mesmo através do sacrifício de Cristo. Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Romanos 14:7.
Cristo nos levou a morrer juntamente com ele para que nós possamos nos renunciar a nós mesmos. Sem o desapego de nosso egotismo não haverá verdadeira vida espiritual. O ego está contaminado de teomania arrogante e não consegue se desapreciar, vivendo sempre em busca de aplausos e reconhecimento. Somos uma raça inchada e iludida com a obesidade de nossa presunção.
A renúncia de nós mesmos é sempre um resultado da consciência de nossa real imprestabilidade pecaminosa. Enquanto acharmos que somos importantes e dignos de aprovação nós teremos muita dificuldade de nos desestimar, por isso mesmo a abdicação de nossa nobreza é um milagre da morte com Cristo.
A mentalidade atual da psicologia promove acima de tudo a nossa auto-estima como a base do bem-estar emocional. Mas Jesus sustenta a necessidade fundamental da abnegação como o alicerce do seu discipulado. Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Lucas 9:23. Não há cristianismo autêntico sem estes quatro princípios essenciais.
Primeiro, a liberdade corajosa. Se alguém quer vir após mim. Ainda que ninguém venha a Cristo porque queira, ninguém poderá vir a ele se não o quiser. A vontade humana corrompida pelo pecado não quer a Cristo, mas o Espírito Santo mediante a loucura da pregação da Palavra convence o rebelde a querer aquele que ele não queria. Ninguém crê porque quer crer, além do mais ninguém é obrigado a crer. Mas quem crê, só crê porque foi persuadido voluntariamente a crer com o milagre da fé.
Segundo, a autonegação. A si mesmo se negue. Não há fé cristã sem a demissão de nós mesmos. A sala do trono não pode ser ocupada por dois regentes. Se Cristo é o rei, então o ego tem que se afastar. Não se trata de mera resignação, mas de abdicação do mando. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor. Romanos 14:8.
Terceiro, a atualização da morte. Dia a dia tome a sua cruz. A experiência cristã começa com a pena de morte do pecador juntamente com Cristo e continua com a sua reedição diariamente. A cruz não é um simples instrumento de tortura, mas uma sentença de extermínio que precisa de regularidade. O tempo de validade da cruz é agora, por isso é imperiosa a sua reciclagem a cada instante, trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos. 2 Coríntios 4:10.
Quarto, a caminhada persistente. E siga-me. Jesus não está convidando alguém para um passeio no Parque nem para uma exibição numa passarela. Ele ordena ao discípulo a segui-lo. No cristianismo, ninguém recebe um mapa de viagem e uma bússola para a orientação, deixando que cada um faça o seu próprio trajeto. A viagem do cristão obedece ao roteiro do guia. E Jesus é o único Guia. Siga-me tem implicações com a atualização da morte, com a autonegação e com a liberdade corajosa que define o perfil daquele que verdadeiramente recebeu a Cristo como Senhor da sua história.
Os efeitos eficientes da cruz definem uma marcha sem mochila e sem murmuração. O discípulo do Cordeiro não tem permissão de abrir a sua boca para reclamar das condições da viagem, muito menos para propalar os seus direitos, uma vez que Jesus nunca prometeu boa vida na estrada, nem fez propaganda enganosa para alguém levá-lo ao Procom Celestial. Talvez por isso Teresa de Ávila tenha suspeitado: “Senhor, se é assim que tratas os teus amigos, não é de admirar que tu tenhas tão poucos”.
As marcas de Jesus que o apóstolo Paulo se refere são as marcas de uma vida estigmatizada pelas sequelas da cruz. Nenhum peregrino da via crúcis tem licença de se defender ou autorização para se promover. A passeata dos discípulos do Cordeiro é silenciosa diante da plateia humana e exultante perante o trono da graça. Eles se calam ante seus feitos pessoais, enquanto cantam exultantes ao Cordeiro que já apagou todos os seus defeitos com o sangue imaculado.
Os santos não reivindicam tributos, tampouco fazem crítica ao tratamento que o Pai determinou para sua jornada. Eles têm uma ótica bem diferente do estrabismo que caracteriza os descendentes de Adão. Veja como o velho viageiro enxergava o horizonte: Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. Romanos 8:18.
Enquanto estivermos andando nesse caminho não há promessa de vida fácil. Jesus não garantiu sucesso no percurso, pelo contrario, ele foi enfático com as lutas, todavia apelou para que seus discípulos fossem bem humorados. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. Mateus 5:11-12.
A estrada é complicada, mas o hotel é uma constelação de estrelas quando chegar ao fim da viagem. A recompensa no evangelho é um assunto para o fim. No reino de Deus ninguém recebe propina para promover os projetos. O prêmio é sempre no final. Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Apocalipse 2:10.
Se os efeitos da cruz removem de nós os direitos pessoais, eles também retiram de nós a tendência de nos comparar com os outros. Quando Jesus revelou a Pedro que teria uma morte atroz para glorificá-lo, ele apontou para João querendo saber o que ocorreria ao discípulo amado. Respondeu-lhe Jesus: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Quanto a ti, segue-me. João 21:22.
Ainda que todos sejam escolhidos e aceitos pela graça, isso não significa uma uniformização nos ministérios. A soberania divina tem o direito de escolher um vaso para honra e outro para a desonra e não há isonomia nas suas decisões. Ora, numa grande casa não há somente utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém, para desonra. 2 Timóteo 2:20.
A escolha de Deus é soberana e ninguém tem autoridade para controverter os seus propósitos. Por outro lado ninguém pode desfazer aquilo que Deus faz em nossas vidas. Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Romanos 9:20.
Quando o Pai escolhe um vaso para um lugar de destaque, ninguém tem o direito de discutir essa decisão. E quando ele convoca alguém para uma missão penosa, ninguém precisa ter pena desse missionário. A única alternativa que o verdadeiro discípulo tem é a que Jesus disse a Pedro: Quanto a ti, segue-me.
Na casa de Abba não há lugar para competições pessoais ou confrontos particulares. Os seus filhos têm as marcas do seu Filho Jesus, por isso mesmo o julgamento na família se pauta pela vontade soberana do Pai. Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster. Romanos 14:4.
Quero arrematar esse ponto com as palavras de Paulo quando iniciamos a meditação: Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus. As principais características do caráter de Jesus são vistas nesta sua afirmação: Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Mateus 11:29.
A única canga em que nós estivemos juntos com Jesus foi lá na cruz. Naquela ocasião ele morreu a nossa morte e na sua ressurreição nós ganhamos a sua vida a fim de podermos andar em mansidão e humildade de coração. A mansidão fala do nosso desapego com relação às posses, enquanto a humildade aponta para a desestima de nós mesmos em razão de sermos apenas pó. Se ainda temos apego a esses dois vetores, precisamos de mais luz para a revelação dos efeitos eficientes da cruz em nossas vidas.
Glênio Fonseca Paranaguá  -  http://valeestreito.wordpress.com