quinta-feira, 6 de abril de 2017

UM CORAÇÃO AOS CACOS

O arrependimento não é remorso. “O verdadeiro arrependimento consiste em ficar o coração quebrantado por causa do pecado e de romper com o pecado,” afirmou muito bem William Nevins. Não confunda a tristeza, em lágrimas, com a dor do coração.
O remorso é uma tristeza do sujeito que foi flagrado com a boca na botija, mas o arrependimento é a tristeza daquele, que, mesmo ninguém sabendo do seu deslize, se percebe como tendo ofendido a santidade de Deus. No remorso, muitas vezes, existe só e apenas um show de lágrimas, mas no choro do arrependimento há quebrantamento.
Já cai várias vezes no pranto do conto do vigário. Eu mesmo já chorei porque o meu erro foi descoberto. Havia chororô, todavia não se via pungimento. Deus olha para o coração compungido e contrito e não simplesmente para os olhos marejados. As lágrimas de Esaú não revelaram o seu arrependimento. Eram lágrimas de tristeza sentimental.
Victor Alfsen disse:
“Deus pode fazer maravilhas com um coração quebrantado, se você lhe entregar todos os pedaços.” Mas como entrega-los?
Na verdade, a tristeza espiritual é um dom da graça de Deus. Só a mão do Pai pode nos tocar, de tal maneira, que torne o nosso coração sensível diante da visão e da convicção do pecado. Se o Pai não nos levar ao constrangimento e nojo pelo pecado, não haverá quebrantamento, e, consequentemente, não haverá a entrega dos cacos a Ele.
No reino de Deus, um coração quebrantado e entregue a Ele é o único coração inteiro e sadio. Não há saúde espiritual sem quebrantamento da alma.
Foi John Henry Jowett quem disse: –
“o evangelho de um coração quebrantado começa com o ministério de corações que sangram. Quando nós paramos de sangrar, já paramos de abençoar.” Jesus disse ao médico ferido, que queria ser curado, na peça que leva esse nome: – se você for curado, quem compadecerá dos doentes que lhe procuram?
Jesus é denominado como “o homem de dores”. Sem dores a fé cristã é dura e insensível. Foi o Dr. Martyn Lloyd-Jones quem disse:
“Se realmente conhecemos a Cristo, como nosso Salvador, os nossos corações estarão quebrantados, não podem ser duros, e não podemos negar a compaixão e o perdão.”
Muitos de nós pensamos que já estamos quebrantados, mas estamos apenas em um estado de aviltamento. O quebrantamento é mais do que servilismo, ele nos tira do tribunal do júri, em defesa de algum direito camuflado, e no coloca na senzala do reino de Deus, como escravos a serviço da glória do Rei dos reis, sem qualquer direito.
Mendigos, vivemos hoje o cristianismo da prosperidade e das reivindicações de “Servos” imponentes. Mas, o que falta, de fato, são corações quebrantados que vivam só e tão-somente para a glória do Senhor.
Do velho mendigo do vale estreito,
Glenio Fonseca Paranaguá.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

A FÉ CRISTÃ NÃO SE TRATA DE COISAS NOTÁVEIS

A fé cristã não se trata de coisas notáveis que faço na praça, mas o que vivo no quarto com portas trancadas. Não é como prego no púlpito, mas como vivo sem máscara, nos bastidores. Não é a performance da passarela, mas o anonimato do camarim.
A conversa secreta é mais importante do que o discurso público. Os cochichos são mais reveladores do caráter cristão do que os relatórios. A oração de portas fechadas é mais significativa do que aquela propalada aos quatro cantos. Deus jamais vê como nós vemos: nós vemos a casca, Deus, o cerne. Para nós, o que vale é o verniz, para Deus, é o íntimo. A vida interior tem mais valor do que a conduta externa.
A fé cristã não é tanto uma ação planejada, mas a reação inesperada. Não é a honra almejada, porém, a humilhação desfrutada com contentamento. O cristão não vive para ser aceito por Deus, mas, vive a partir de sua aceitação de Deus.
Nenhum cristão legítimo busca os confetes humanos e nunca se melindra com a ausência de reconhecimento. Jesus era assim, nunca reivindicava por holofotes.
O cristianismo não é uma postura elevada, mas um espírito quebrantado. E eu não sou visto, como um cristão, pelos meus direitos, mas pela minha renúncia. Foi assim que Jesus viveu e é assim que vamos dar testemunho da nossa fé nEle.
No reino de Deus, um coração quebrado é o único coração inteiro. Integridade espiritual e quebrantamento são imprescindíveis para a peregrinação rumo à Jerusalém lá do Alto, pois, assim como Jacó precisou ser ferido na coxa para tornar-se um príncipe real de Israel, nós precisamos ser crucificados com Cristo Jesus para poder entrar, realmente, na Assembleia dos redimidos. Sem a co-morte com Cristo não há vida ressurrecta.
A nobreza de Deus, na terra, além de ser manca, traz os sinais marcantes dos cravos no caráter. Não é apenas a ortodoxia da cruz que nos identifica com cristãos, mas a ortopraxia do espírito da cruz. A vida de um crucificado tem as cicatrizes da cruz no seu modo de andar. Os cristãos só podem participar de paraolimpíadas espirituais.
Os direitos humanos fazem das aberrações morais uma cartilha da moralidade de um mundo caído, mas o Evangelho faz das vidas justificadas um motivo justificável de serem perseguidos pelo estilo santo de seu modo de viver: santidade rejeitada.
Um cristão autêntico não tem direitos neste mundo, nem faz parte de sindicatos morais. Ele vive de Cristo, por Cristo e para Cristo. Sua única reivindicação é para a glória de Cristo e as consequências disto é viver no ostracismo para o mundo. Quem busca sua visibilidade pública neste mundo, talvez nada saiba do que foi a vida de Jesus da Galiléia.
Mendigos, todo cuida é pouco com a nossa exposição nos Face-books da vida. Jesus quando fazia um feito notável se ocultava.
Do velho mendigo do vale estreito,
Glenio Fonseca Paranagua.