sábado, 23 de março de 2013

GOTAS DE GENEROSIDADE VII.


D. Generosa foi uma das pessoas mais miseráveis que viveu no país das Contradições.
Seu pai, dono de grande patrimônio, deu-lhe esse nome na expectativa de que a filha
fosse alguém bondosa como a sua mãe, que vivia para servir. Mas, a menina, ainda no
berço, demostrava uma tendência à posse. Tudo era dela. Antes de dizer: mamãe ou
papai, já se comunicava afirmativamente: "meu, meu"... seu primeiro vocábulo.
Quando se casou, fez um poema inaugural: O meu amado é meu, e eu sou dele; ele
apascenta o seu rebanho entre os lírios. Cantares de Salomão 2:16. Ela dizia consigo: eu
só me entrego a ele depois de possuí-lo. Antes de tudo, ele se torna meu; é minha posse;
depois, eu posso até compensá-lo. Essa é a tirania da troca de favores.
Ensimesmado casou-se com D. Generosa e tiveram vários filhos: Mão-de-Vaca, Sovina,
Pão Duro, Avarento, Somítico, Segura, Fisgado, Miserável, Mesquinha e a caçula lhe
deram o nome: Muquiraninha. Era uma família abastada, rica ao extremo em termos de
bens materiais, mas paupérrima na alma. Vemos aqui a turma que a velha cantiga de
roda costuma nomear: "pobres de marré deci", isto é, tão pobres... só tem dinheiro.
O apóstolo do Amor fala de uma outra estirpe de gente. Cita uma pessoa de nome Gaio,
que significa, "senhor"; talvez seja um senhor da generosidade, porquanto afirma: Amado,
acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua
alma. 3 João 1:2. Esse é um sujeito com amplitude nas entranhas; alguém de alma larga.
Enquanto uns são generosos por natureza Divina, procurando dividir o que chega em sua
conta, sem contar nada a ninguém de sua generosidade, outros são apenas nominais;
vivem de aparência. É uma casta castrada, estéril, que habita nos cubículos apertados da
dor, sufocada pelo medo de perder, porém turbinada pela ganância de ter cada vez mais.
Generosidade não é própria do velho Adão, tão pouco é propalada aos quatro cantos,
pelos filhos de Abba, que a praticam nos bastidores, mas, sem qualquer necessidade de
propaganda ou relatórios para mostrar aos outros os seus gestos de benevolência.
Os filhos da madrugada, que procedem da ressurreição de Cristo, sabem, muito bem:
"dinheiro é como estrume; espalhado fertiliza os campos, gerando vida e trazendo boa
ceifa, mas amontoado, fede". Aquele que se orgulha com o que tem, torna-se insuportável
e de difícil relacionamento. Mas, ser generoso cura a alma do medo de perder.
Quem vive da generosidade Divina, suprido pelas esmolas da graça, não pode ser um
ente que mantém um escorpião de estimação no bolso. Os mendigos no Reino de Deus
não são pródigos ou esbanjadores; também, não são seguros. Aquele que foi de fato,
alcançado pelo Amor sem medida, não se priva do privilégio de participar na medida da
generosa graça do Pai em seu modo de amar. No amor do Amado, do velho mendigo,
Glênio Fonseca Paranaguá

SE DEUS EXISTE DE FATO, POR QUE EXISTE TANTO MAL NO MUNDO?


CRISTO NO SALMO 110 32


CRISTO EM MIM.COM VOCÊ - Nº 02

terça-feira, 12 de março de 2013

GOTAS DE GENEROSIDADE VI.

Macedônia significa terra expandida. Sua história vincula-se aos povos que habitavam a
região da Grécia e Anatólia na Antiguidade. Filipe II, o caolho, pai de Alexandre, o grande,
viu-se como o rei responsável por sua maior expansão. Mas no tempo do apóstolo aos
gentios a região já havia perdido o seu esplendor e era uma terra inexpressiva.
Contudo, Paulo, ao descrever o privilégio de ser um contribuinte na igreja de Cristo, toma
os cristão macedônios como modelos de liberalidade. Também, irmãos, vos fazemos
conhecer a graça de Deus concedida às igrejas da Macedônia; porque, no meio de muita
prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles
superabundou em grande riqueza da sua generosidade. 2 Coríntios 8:1-2.
Aqui, neste texto, temos quatro princípios que norteiam a vida magnânima da alma liberta
e liberal. O primeiro é a graça de Deus concedida. Não adianta extrair esse feto a fórceps,
pois já nasce morto. Dar por dever, interesse, medo, culpa ou vergonha é abortar a cria do
contentamento espiritual. Se o Pai não promover, por sua graça, o gesto da generosidade,
fica sem graça qualquer expediente para isso. É triste ver o sujeito dá na marra.
O segundo: prova de tribulação. Já disse em outra Migalha, que Deus não precisa de
coisa alguma, mas nós precisamos ser desarraigados da posse. Não somos proprietários
de nada neste mundo, por isso, ser generoso quando se tem pouco é uma barra pesada.
Ofertar do que nos sobra parece mais fácil do que dar daquilo que é escasso. A verdade,
porém, é que o pobre é sempre mais liberal do que o rico. Duvida? Então, examine.
O terceiro princípio fala exatamente da abundância de alegria nesse mister. Só a turma
desprendida consegue desprender-se dessa turbação de ter cada vez mais, a fim de
poder investir na festa do ser cada vez mais contente. William Shakespeare tinha toda
razão: "Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos".
Alguém já disse que a pessoa mais rica que existe é aquela que se contenta com menos.
Finalmente: se o contentamento é o maior patrimônio que podemos ter, então aquele que
manifesta a satisfação em contribuir para ajudar na promoção do bem estar de outros, até
na sua pobreza, pode superabundar em grande riqueza de sua generosidade.
Uma vez que a Macedônia quer dizer: "terra expandida", então, os crentes macedônios,
no caso da liberalidade, expressaram a maior expansão daquilo que é generoso; foram
mais do que divisores de águas, como Moisés na travessia do Mar, pois dividiram de sua
pobreza uma riqueza expandida de generosidade que foi além das suas possibilidades.
Veja a dimensão da magnitude no reino de Deus: grande não é quem tem muitos servos a
seu serviço, mas aquele que, pela graça do Pai, pode servir a muitos. Ó Pai, expanda-me
nessa escola do contentamento generoso. No amor do Amado. Do velho mendigo, Glênio Fonseca Paranaguá.

segunda-feira, 11 de março de 2013

ORAÇÃO

"e se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se desviar dos seus maus caminhos, então eu ouvirei do céu, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra."(2 Crônicas 7:14)


Dentro do fascinante assunto da oração, este versículo é um clássico e nos ensina muitas coisas. Eu observei, parece que intencionalmente, que Deus colocou o ensino de que a oração fica posicionada entre o "humilhar" e o "buscar minha face". Isso pode ter vários motivos e não quero de modo algum esgotar o assunto, mas alguns pontos merecem atenção.
Primeiro, não adiantaria orar na situação em que este povo estava sem primeiro humilhar-se. O cenário era da inauguração do Templo de Salomão. Era uma promessa clara de Deus, como que dizendo que, sempre que fosse necessário, ele estaria pronto para uma intervenção para com o Seu povo. Antes de orar cabe humilhar-se, para que venha a nós de maneira especial o Seu favor, Sua misericórdia, Sua bondade, Sua provisão. Somos alcançados por Sua graça salvadora e Suas misericórdias são a causa de não sermos consumidos, mas precisamos mais. Devemos desenvolver nossa salvação com temor e tremor, buscando intimidade e santidade a cada dia. A oração precedida de humilhação diante Dele está no caminho da bênção.
Depois, tendo orado, buscar Sua face torna-se algo fluente, uma sequência lógica e funcional. Podemos entender o buscar Sua face de diferentes formas, mas não posso evitar de pensar em adoração (com ou sem música), não evito de pensar em orar mais ainda, buscar na Palavra (a Bíblia). Não consigo deixar de pensar em declarações de amor verbalizadas, em forma de oração ou não, em forma de poesia ou não, musicalizadas ou não. Mas nada supera a obediência e a santidade quando o assunto é buscá-lo, nada vai além de cumprir Sua vontade quando se trata de buscá-lo.
Meu querido, se você tem dificuldade para orar, experimente começar a orar confessando suas culpas, suas negligências, suas dificuldades, tudo aquilo que pode ter aborrecido ou entristecido o coração do Pai. Somente depois de feito isso comece a reconhecer Seu Poder, Santidade, Caráter infalível, Sua Majestade, enfim o Deus que Ele é. Depois, sem pestanejar agradeça pelos seus atos de provisão, de cuidado, de misericórdia. Agradeça pela salvação em Jesus Cristo. Depois, se sobrar fôlego, peça alguma coisa.
Isso pode mudar sua vida de oração, pode ter certeza.
"Senhor, eu não sei orar como convém, mas estou disposto a aprender com a Tua ajuda e com o Teu cuidado. Ajuda-me Deus."  Mário Fernandez  http://www.ichtus.com.br

domingo, 10 de março de 2013

VENCIDO PARA VENCER


Por Glenio Fonseca Paranaguá

Porque, de fato, foi crucificado em fraqueza; contudo, vive pelo poder de Deus. Porque nós também somos fracos nele, mas viveremos, com ele, para vós outros pelo poder de Deus. 2 Coríntios 13:4.
Deus em carne já serve de encarnação para quem tem uma mente conduzida por arquétipos idealizados. É, no mínimo, bizarro admitir um Deus vestido em pele humana, usando "havaianas", enquanto vai ao mercado, a fim de comprar tomates para o almoço. É ridículo pensar no Todo-Poderoso, no Soberano do Cosmo, indo a pé pelas vias poeirentas da Galiléia, enquanto vende sonhos celestes a mendigos.
Além de ser um absurdo a vinda de Deus ao mundo como homem, foi um aparente fracasso do ponto de vista do sucesso humano. Se o Criador encarnado na criatura já era uma loucura total para uma mente presunçosa, que pretende explicar o inexplicável com a sua razão limitada, ainda mais, quando esse Deus é pobretão e fracote, a ponto de ser vencido e morto numa cruz. Isto é, no mínimo, inadmissível.
Nosso modelo racional não consegue aceitar a fraqueza como um sinônimo de vitória. É muito complicado, para a mente esnobe, pensar no Senhor do Universo de cócoras lavando os pés sujos de uma turma de miseráveis. Eu mesmo fico cismado com a postura rebaixada de Deus. Sinto-me incomodado com esse seu gesto vulgar.
Deus que é Deus não pode, por hipótese alguma, se desfigurar com esse jeito de indigente. Não. Ele não pode ser um escravo de terceira categoria. Humilhação é coisa de gente desqualificada, assim pensavam os nobres filósofos da velha Grécia.
Húmus é barro. O humano é o barro que ficou de pé. Mas humilde é o humano cheio de vento que se reconhece húmus, isto é, se vê apenas como barro sujo. Só, que essa visão é uma barra pesada para aquele que tem aspirações ao Trono de Deus. É impossível ao arrogante admitir a sua natureza de barraco. Devo confessar que sofro com a minha origem do pó e me ponho sempre reivindicando um pódio.
Foi nesse contexto de cristas altas que Cristo se esvaziou até ao pó. Que coisa louca é ver Deus em carne e osso, propondo salvar uma turminha topetuda como eu e, talvez, você, numa carcaça de argila. Mas é para essa gentalha com passaporte diplomático e empinada no palco, que vemos Deus topando tudo, esvaziando-se ao patamar do lodo, a fim de nos alcançar nesse barreiro adâmico de lama fétida.
O apóstolo Paulo, o fariseu reduzido à poeira, pergunta a respeito de algo que ainda me incomoda muito. Veja só o seu questionamento ao tratar da ascensão do Verbo encarnado, depois de sua obra na cruz: Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido até às regiões inferiores da terra? Efésios 4:9.
O que significa essa descida até ao barreiro, até às regiões mais baixas da terra? Por que é preciso, primeiro, descer ao fundo do poço, para depois subir aos píncaros da glória? Parece que é um princípio bíblico. Lembra-se de José no Egito? Antes de ser o 2º, no Império, ele teve que fazer um estágio no porão da cadeia.
Eu também não gosto dessa ideia de ser capacho. Não aprecio ficar como o último da fila. O que eu gosto mesmo é da minha elevação. Detesto ser esquecido, viver no ermo, no anonimato. Não faz parte dos meus projetos descer ao fundo da cisterna para ter que cavoucar lama. Eu mesmo sou fissurado por palco, plataforma, palanque, ainda quando finjo que não tenho interesse nenhum pela primazia.
É aqui que a encarnação de Deus me pega em cheio. Ele desceu primeiro porque as minhas pretensões em subir acima de tudo e de todos, e, muitas vezes, às escondidas, no escurinho, fora dos olhares atentos das platéias, são sutis. Foi aí que Ele se humilhou para poder encontrar-se comigo nas minhas ambições alucinadas por grandeza. Deus em Cristo tinha que se tornar barro, para, deste modo barrento, desmanchar a paranóia humana de querer ser como Deus.
Como O vejo na questão da minha experiência? A crucificação de Cristo Jesus, em fraqueza, tinha como objetivo principal a minha conquista pessoal em estado de altivez. Era a conquista de um soberbo, às vezes disfarçado de coitadinho.
Esta foi a tática mais adequada, guardada em sete chaves, para que o Criador encontrasse a criatura em sua ambição altiva e, assim, esvaziá-la. A cruz tem como um dos principais objetivos a morte do velho homem e suas tendências de exaltação pessoal. Por isso, eu preciso ainda, diariamente, levar o morrer de Cristo Jesus, para que a vida ressuscitada de Jesus Cristo se manifeste em meu modo de viver.
Que coisa estranha! O esvaziamento divino produz, nos bastidores do poder, a morte do meu velho Adão. Cristo foi vencido, a fim de me vencer. Ele morreu para me levar a morrer juntamente com Ele; desceu às regiões inferiores, a fim de elevar-me ao apogeu das regiões celestiais, assentando-me na condição de aceito com Ele.
Foi uma estratégia bem bolada e mantida em sigilo perene deste a eternidade passada. Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos. Romanos 16:25.
De que se tratava esse mistério guardado em segredo desde as eras que não se contam? Em primeiro plano, tratava-se da derrota luciferiana, em que o querubim da guarda, aspirante ao trono da Glória seria vencido. Em segundo, tratava-se ainda da remoção presunçosa do Adão coletivo que vive no velho homem. Isto só foi possível através da nossa co-crucificação com Cristo e do implante da vida humilde de Cristo em nosso novo coração, pela fé, doada por Jesus.
Cristo Jesus foi crucificado em fraqueza. Era uma cena patética. O Deus Todo Poderoso, o Criador do universo, agora se apresentava como um sujeito fraco, pobre e inexpressivo; um reles mortal, totalmente fracassado, morrendo escandalosamente como um réu pecador. Há um mistério aparentemente inexplicável nas entrelinhas.
Parece que o apóstolo Paulo entendeu esta estratégia divina muito bem, ao dizer: o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória. Colossenses 1:26-27.
Era um projeto atemporal, oculto das eras, mas designado para os escolhidos do Pai, em Seu kairós, isto é, num tempo determinado. Foi destinado aos separados antes da fundação do mundo e dados de presente ao Filho, ou sejam, os Seus santos que foram eleitos em Cristo, para serem conformes à imagem do Seu Filho.
A aparente derrota de Cristo é, na verdade, uma vitória avassaladora. A Sua fraqueza revela um poder extraordinário sobre o domínio do pecado. Se for verdade que o salário do pecado é a morte, então, a morte foi vencida quando matou Cristo Jesus na cruz, uma vez que, a Sua ressurreição jogou uma pá de cal nesse império.
O apóstolo Paulo pergunta e responde ao mesmo tempo: Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo. 1 Coríntios 15:55-57.
John Owen, no século XVII, sugere com o título de seu livro, "a morte da morte na morte de Cristo", que o contratempo da cruz foi, na realidade, um triunfo fora de série e estrondoso. A debilidade divina era, antes de tudo, uma tática poderosa de dominação mantida com discrição, em silêncio, desde a eternidade passada.
Cristo, o Criador, se torna em semelhança de uma criatura fraca, para vencer, na fraqueza da carne, o pecado daqueles que têm se arvorado a serem como Deus. Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado, a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Romanos 8:3-4.
O Criador do universo vence a rebelião da criatura no mesmo nível da criatura. Ele não vence Lúcifer, o pecador, o mundo, a carne e a morte como o Criador, mas como uma criatura; como um ser humano. Deus se fez homem em fraqueza para vencer o poder da arrogância do pecado, que pretende nos tornar como Deus.
Essa é a lei do Evangelho: o vencido é o vencedor. O morto é quem ressuscita. O fraco é o forte. O humilde é aquele que será exaltado. Tudo isto e muito mais, só será possível por meio de Cristo Jesus. Toda a história do cristão, do princípio ao fim, é uma questão de identificação de Cristo com a humanidade e da inclusão dos eleitos em Cristo, explicadas com as preposições: dEle, por Ele e para Ele.
Portanto, podemos concluir que: a aparente derrota de Cristo Jesus na cruz, foi, na verdade, um triunfo absoluto e total contra o pecado. Do mesmo modo, a nossa fraqueza atual revela a oportunidade de dependermos da onipotência Divina.
Deste modo, o apóstolo Paulo resume a vitória do vencido com estas palavras: Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte. 2 Coríntios 12:10. Aleluia. Amém.
P.S. Deus em fraqueza é inconcebível, em poder, inexplicável. Parece que Brennan Manning tem toda razão ao dizer: “João, o discípulo a quem Jesus amava, termina sua primeira carta com a seguinte expressão: 'Filhinhos, guardem-se dos ídolos'. Em outras palavras, fiquem longe de qualquer deus que vocês consigam compreender. O amor do Abba não pode ser compreendido. Vou repetir. O amor do Abba não pode ser compreendido.” Ainda bem.

terça-feira, 5 de março de 2013

GOTAS DE GENEROSIDADE V.


Escrevi as Migalhas sobre a figueira vetusta e generosa, que morreu no ano passado em
frente à nossa casa, na fazenda. Redigi-as no momento em que observava as reações de
minha esposa ferida em razão de um picada de escorpião, depois de tê-la medicado.
Fiquei acordado assuntando a sua respiração e movimentos, preocupado com o estrago
que aquele carangonço malvado fez em minha companheira de mais de quatro décadas.
Pensei sobre a maldade do bicho, de um lado, e a generosidade da figueira, do outro; e,
ante à sua dor e agitação, lembrei-me de um velho ditado popular que diz: "o pão-duro
tem um escorpião no bolso". Como dói meter a mão na bolsa para dar algo a alguém!
E, enquanto pensava na festa dos periquitos que havia cessado com a morte daquela
árvore liberal, fui levado pela memória dos textos bíblicos até a antiga Macedónia, para
constatar a riqueza da magnanimidade de uma gente pobre, mas dadivosa: porque, no
meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda
pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade. 2 Coríntios 8:2.
Então, comecei a pensar nessa turma que é rica, embora viva apertada no barraco da
miséria, sonegando os atos de liberalidade. É triste ver essa gente privada de gestos
benevolentes, vivendo apenas por seus interesses egoístas, miúdos e mesquinhos.
Foi naquela madrugada aflita que entendi melhor o velho provérbio que mostra o sovina
com um lacrau no bolso, impedindo-o de ser caridoso. Entendi, também, que a verdadeira
generosidade é fruto da vida que nasce da morte. O grão de trigo tem que morrer para
poder dar muito fruto. Só a vida da ressurreição traz em si a legítima benevolência.
Os crentes da Macedônia eram pobres e estavam sob os açoites das tribulações, mesmo
assim, faziam festa e celebravam com a abundância da generosidade. Alguém já disse: "É
um grande espectáculo ver um homem esforçado lutar contra a adversidade; mas há um
ainda maior: ver outro cheio de ânimo correr em sua ajuda em generosidade exultante".
Talvez Madre Teresa tenha razão: "Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é
senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota". Isto é
semelhante a um passarinho que ia e vinha apagando um incêndio na floresta com um
pingo d'água no bico, quando foi interpelado por um cidadão que nada fazia e via inútil o
esforço da ave. Ao que o bichinho lhe retrucou: - esta é a minha parte. Qual é a sua?
Há daqueles que nada fazem e ainda criticam os que fazem um pouco. Porém, a turma da
madrugada - a gente que nasceu da tumba escancarada - rejubila-se quando se vê como
parte da solução dos problemas e jamais como parte dos problemas. Se você vive das
esmolas da graça, nunca se esqueça que você faz parte da solução dos problemas e que
outros serão abençoados pelas suas gotas de generosidade. Do velho mendigo,
Glênio Paranaguá.