terça-feira, 27 de dezembro de 2011

MIGALHAS QUE CAEM DA MESA

OS PARADOXOS NO NATAL

Que loucura! Um Deus de fraldas deitado numa cocheira é um absurdo completo para a minha mente metida a racional. O Criador do universo vestindo o manequim de um bebê torna-se um contra senso universal. Mas, a verdade nua é que Deus se encarnou num neném pelado e veio habitar humildemente como homem entre os homens soberbos.
Deus, agora, tem um endereço insignificante numa biboca qualquer deste mundo cheia de pedras, espinhos e cardos. Há um Salvador para a arrogância humana, dormindo sossegadamente numa estrebaria, sem qualquer visibilidade pública. O Deus encolhido, o Deus nenê desceu do céu para expandir o amor na terra dos ensimesmados. Parece que esse Deus infantil gosta mesmo e muito de gente topetuda e suja de barro.
O nascimento de Deus na raça de Adão é o paradoxo dos paradoxos. Mas, também, é a maior demonstração de afeto por uma espécie saturada de autossuficiência. Como é grandioso ver o Deus Soberano e Onipotente se importar profundamente com gente que não vê qualquer importância nele! Gente obesa de si mesma!
Vejo em Jesus de Nazaré a assinatura humana de Deus num título de resgate de uma conta impagável de presunção desta pseudo independência. Vejo nele o preço da redenção, sem pechincha nem descontos, para uma turma altiva que se acha acima do panteão, e que prefere construir a sua lamentável história à custa da demolição do planeta azul.
Quero, nesta pequena reflexão, fora de época, já que Cristo Jesus, com certeza, não nasceu no mês de dezembro, desejar que você perceba o Natal, não como uma festa de alguns presentes, mas, como a Festa de Alguém, muito especial, presente nas vidas dos indignos que o recebem, fazendo a diferença nos corações dos indiferentes.
Feliz Natal é uma pobre frase sem sentido, criada pelos admiradores de “ho, ho, ho”. Embora, feliz será sempre aquele que celebrar o Natal, 365 dias por ano. Curta, com alegria, este ano 2012 com Cristo habitando no seu casebre de barro. Ele mesmo financiará o seu contentamento a cada dia, apesar das tribulações. O Criador veio para ser submisso à criatura, e, deste modo, fazer o maior milagre na terra: conceder à cria orgulhosa a condição de depender do Criador, que se acocorou com uma bacia e uma toalha, a fim de lavar os pés de uma “turminha” soberba ao extremo, indo até a cruz para libertar os que se acham “super deuses”.
No amor da Casa do Pão. (De Belém, ao monte do Calvário, você será saciado em sua fome de significado neste banquete diário de Amor incondicional).  Glênio Fonseca Paranaguá e Família

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

VENCEDORES

"Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?" (1 João 5:5 ARA)

  • Ainda que ao olhar ao nosso redor, o mundo seja cruel - e é.
  • Ainda que pareça que não se pode vencer o sistema.
  • Ainda que para cada um de nós hajam 20 incrédulos.
  • Ainda que sejamos perseguidos diariamente.
  • Ainda que pareça que estamos perdendo terreno.
  • Ainda que a igreja local não seja o que gostaríamos.
  • Ainda que nossos pastores não sejam perfeitos.
  • Ainda que não compreendamos tudo que Bíblia diz.
  • Ainda que haja desavenças entre nós, irmãos.
  • Ainda que o diabo seja um inimigo astuto e poderoso.
  • Ainda que, às vezes, nos sintamos esquecidos, abandonados.
  • Ainda que tudo pareça desmoronar ao seu redor.
AINDA ASSIM....
Ainda assim os vencedores não são os valorosos, ou os bem instruídos, ou os bem vestidos, ou os bem comportados, ou os que oram mais, ou os adoradores. A vitória que vence o mundo é a fé no Filho de Deus, na manifestação visível e encarnada do Deus Vivo e Eterno - Jesus de Nazaré, o Dono de toda autoridade no céu e na Terra, cujo nome foi exaltado acima de todo nome e diante do qual todo joelho se dobrará.
Não se deixe impressionar pelas adversidades, não deixe que as situações ditem a sua fé. Foco no alvo, foco no alvo, foco no alvo - e o alvo é Jesus Cristo.
Talvez esta devocional não faça muito sentido para você neste momento, mas posso assegurar que no meu momento de vida faz todo sentido. Ou Jesus será meu foco ou ficarei literalmente desnorteado. Eu   vencerei, creio nisso e não é frase de efeito. Junte-se a mim e vamos adorar àquele que venceu, mesmo em meio às nossas tempestades. Com fé, com firmeza, com clareza e com foco.
O mundo? O mundo passará, mas as Palavras Dele durarão para sempre. Vai apostar no eterno ou no passageiro?
"Pai, obrigado por abrir meus olhos para a vitória que o Senhor tem para cada um de nós mediante a fé no Teu filho. Fortalece-nos e ensina-nos a levar adiante nossa condição vitoriosa, para glória do Teu nome" Mário Fernandez

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

MIGALHAS QUE CAEM DA MESA

O GIGANTE GOLIAS E O COITADINHO DO MEFIBOSETE. 1
A história de Davi, o pastorzinho de ovelhas que virou rei de Israel, tem dois personagens curiosos em sua biografia. Um gigante, no prefácio, e um aleijadinho, na conclusão.
Os dois tipos são simbólicos e significativos. O primeiro é a representação daquilo que promove a nossa vanglória. Escalar os píncaros elevados é um obstáculo quase intransponível para quem deseja a vida simples e anônima. É complicado assentar-se num trono e ainda gozar o prazer de descansar num tamborete à sombra da invisibilidade pública.
A história dos grandes feitos requer uma narrativa heróica. Quando Davi venceu o gigante Golias, tornou-se um monstro sagrado para o seu povo. Daí para frente ele veio a cultivar e cultuar muitos aplausos, uma vez que os heróis normalmente são convertidos em ídolos das multidões ávidas por referência.
Nesta hora aparecem as tietes como fungos tóxicos, envenenando os rivais e causando, através da louvação, um verdadeiro esporão de arraia no íntimo dos invejosos.
O rei Saul foi vítima deste golpe ferino, quando as donzelas o compararam com aquele súdito pixote, aquele nanico; dando a Davi uma potência de dez vezes mais do que o rei. Foi aí que o seu reinado despencou morro a baixo.
O perigo do êxito é duplo: de um lado, a vaidade instigando a vanglória; do outro, a inveja instalando a sua perseguição e vingança astuta. O sucesso é uma sucessão de armadilhas ardilosas e sutis, por onde o orgulho financia a soberba, enquanto a inveja favorece a armação de uma arapuca para aprisionar o sujeito. De ambos os lados há conflitos gigantescos no íntimo da pessoa bem sucedida.
O meu gigante vanglorioso é um Drácula que suga o sangue na veia dos invejosos e ainda me deixa anêmico pela necessidade de reconhecimento da platéia. Se for admirado, acabo ficando pálido de tanto me admirar nesse espelho mágico, distante do sol da verdade.  E, se não sou visto, sofro com a hemorragia nas minhas entranhas.
Porém, há outro personagem tipológico que requer cuidados especiais. Davi foi genro do rei Saul, seu arquiinimigo invejoso, que o quis matar a todo custo. O rei o detestava, mas o seu cunhado, Jônatas, era o seu amigo preferido. Davi e Jônatas, filho de Saul, se amavam no meio de um fogo cruzado da artilharia brutal dessa guerra nacionalista.
A dinastia de Saul havia chegado a um beco sem saída. O fim da aristocracia de Benjamim foi quase ao extermínio total da família. Quando Davi assumiu o trono, apareceu um descendente de Saul, um serzinho manco nos escombros dos benjamitas. Era o pobre Mefibosete, um aleijadinho que havia caído do caminhão da mudança.
Agora, no cenário da psique, pode brotar a autocomiseração como o outro lado da velha moeda do orgulho. A doença da alma, via de regra, faz da bondade um negócio para compensar a culpa que por vezes esculpe uma chaga dolorosa do "Auto da Compadecida".
Mefibosete significa: "exterminando o ídolo". Qual era o ídolo? Também, temos uma figura que tipifica a operação da graça aos miseráveis. Observem que ele é um deficiente indigno que foi convidado a tomar parte como príncipe, em lugar de honra, na mesa real. Mas a sua conduta não é totalmente ingênua.
A semana que vem eu vou considerar algumas estripulias desse meu gênero coitadinho. O orgulho camuflado de autocompadecimento é muito mais ameaçador do que desfilar na passarela destilando a arrogância às golfadas. Tenho muito mais receio do meu modelito esguio do que dessa tampa de poço do meu ego obeso. Até a próxima. Glênio Fonseca Paranaguá

domingo, 20 de novembro de 2011

ATIRANDO PEDRA NO TELHADO


A quem perdoais alguma coisa, também eu perdoo; porque, de fato, o que tenho perdoado (se alguma coisa tenho perdoado), por causa de vós o fiz na presença de Cristo; para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios. 2 Coríntios 2:10-11.
A expressão: “atirando pedra no telhado” é uma figura de linguagem que ilustra a ofensa. Ninguém vive neste mundo sem algumas pedradas pela frente e por trás. Feridas e contusões fazem parte da tragédia no dia a dia de cada um de nós. Há sempre alguém com estilingues jogando algo escabroso em alguma pessoa distraída ou desprotegida.
As críticas ferinas, as acusações injustas e as traições inesperadas são muito mais frequentes do que realmente gostaríamos de admitir em nossa ingênua imaginação. Além de que, somos também atiradores disfarçados em pacientes bem espertos.
Os bastidores dos relacionamentos estão sempre cheios de lixo composto pelos seixos atirados das janelas dos vizinhos, parentes e de gente muito próxima. Mesmo nos encontros entre aqueles que ‘consideramos’ nossos amigos de verdade, encontramos restos de brita atirada, como se fosse apenas sujeira pelas calçadas.
Ninguém está isento de ser machucado, esfolado e ferido neste mundo de tantas pedreiras, de onde, com certeza, as pedradas virão de todos os lados. Entretanto, a questão básica, aqui, não é a ferida sangrando, mas o hematoma que nunca sara.
As pauladas nossas de cada dia, precisam ser tratadas cuidadosamente na sala cirúrgica do Calvário. A dor da alma carece de uma medicação radical sob a acurada terapêutica da cruz de Cristo Jesus. É preciso um perdão furioso para tratar o furúnculo da amargura que infecciona os tecidos dos relacionamentos interpessoais.
Jesus não suportaria tanta dor moral naquelas seis horas atrozes na estaca, se não estendesse o seu perdão a todos os seus algozes. Quando ele orou: Pai perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem, Lucas 23:34a, além de conceder o alvará de soltura aos seus ‘apedrejadores’, estava abrindo, para si mesmo, as portas de um cárcere muito apertado de sofrimento alucinante, decorrente de amargura. Perdoar é um imperativo do amor.
Com certeza, a dor aguda dos cravos, apesar de sua cruenta crueldade, não pode ser comparada com a dor sufocante e ininterrupta da amargura interior, consumindo a alma. O cálice da cruz seria mais amargo, se Jesus não tivesse perdoado aos seus inimigos.
O perdão tem mão dupla, mas a via principal é para quem o está liberando. Aquele que perdoa é o mais beneficiado no caso. Ele se livra da condição de ser transformado numa penitenciária de segurança máxima e de se converter num carcereiro apoquentador, sempre preocupado com a fuga do réu.
O perdão liberado liberta muito mais o que perdoa, do que aquele que é perdoado. O verdadeiro alforriado, neste caso, é quem exerce o perdão, uma vez que a amargura, de contínuo, cobra um imposto muito pesado do amargurado.
Temos na Bíblia alguns exemplos de pessoas magoadas que podem ser estudadas aqui, tanto no que diz respeito ao ressentimento armazenado, como também, pelo desprendimento em perdoar, financiado pelo amor perdoador de Deus.
Há uma dupla intransigente e cabeçuda que começou uma brigar feroz na barriga da mãe. Esaú e Jacó fizeram do útero de Rebeca, sua mãe, um ringue onde um tentava nocautear o outro. Os filhos lutavam no ventre dela; então, disse: Se é assim, por que vivo eu? E consultou ao SENHOR. Gênesis 25:22.
Essa perrenga histórica saiu do ventre da mãe tomando dimensões terríveis, com o mais novo pegando no pé do mais velho. A disputa entre os dois continuou até que se tornasse numa amargura crônica. Esaú foi vítima de um “golpe baixo” do irmão, em razão de sua própria mentalidade vulgar, no que diz respeito aos valores familiares às avessas.
A disputa dos gêmeos vem gemendo pelos bastidores da história de povos e nações que se engalfinham até hoje, nas cavernas do Oriente médio, por causa de uma amargura insidiosa que insiste em agredir as entranhas da alma de gerações em gerações.
Os irmãos briguentos, apesar de terem feito uma ‘reconciliação dramática’, não tiveram um relacionamento amistoso daí para frente. A Bíblia, falando num texto sobre Esaú, deixa claro: atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando- se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados; Hebreus 12:15.
Fica evidente, no contexto, que o assunto se refere ao desgostoso e amuado Esaú, quando, em seguida, diz com concisão: Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado. Hebreus 12:17.
Remorso, choro e lamento não quer dizer que houve verdadeiro arrependimento, nem reconciliação formal significa que houve perdão. Há muita gente agindo com diplomacia no palco, enquanto esconde uma mágoa no camarim da sua alma.
Não é possível vivermos na terra sem cotoveladas, pedradas e pauladas, mas também, não é possível vivermos com um mínimo de saúde mental, sem perdoar os nossos agressores. O ódio aos algozes é algo agonizante para as emoções benfazejas.
Na casa de Jacó, ainda temos um caso bem curioso a observar. O seu filho José, “figura ímpar da prole”, foi alvo da inveja dos seus irmãos ambiciosos, que suscitaram uma crise gravíssima, provocada por este sentimento mesquinho, no seio da família.
José foi vendido como um escravo e, em consequência de sua conduta irrepreensível, acabou comendo o pão que o diabo amassou com a cauda. Durante uns 13 anos de sua biografia, ele sofreu, injustamente, desprezo, acusações e prisões, sendo mantido como um criminoso numa masmorra. Ele foi vítima do ‘olho gordo’ dos seus irmãos.
Nada pode ser mais atroz para uma pessoa correta, do que o sofrimento causado por acusações e injustiças. A lama ácida e fétida atirada sobre o linho branco deixa uma mancha de difícil remoção. A dor da tirania é esmagadora. José tinha razão para se vingar.
Entretanto, quando os ventos mudaram de direção e ele passou de réu condenado na cadeia, a ser o segundo homem mais importante do reino, no Egito; com a faca e o queijo na mão para retaliar os seus irmãos invejosos, se quisesse; sua atitude foi bem diferente de quem nutre a vingança por debaixo dos panos.
A pessoa tratada pela graça de Deus não tem opção. Ou perdoa ou apodrece. José não se fez de coitadinho. O perdão era a sua única alternativa como filho de Deus. Favorecido pelo Cordeiro imolado, desde a fundação do mundo, ele espreme o carnegão e responde aos irmãos culpados: Não temais; acaso, estou eu em lugar de Deus? Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida. Gênesis 50:19-20.
Não existe atalhos ou uma segunda via no caminho do perdão na vida dos filhos de Deus. Como também não existe pecado tão grave que a graça de Cristo não nos garanta a disposição de liberar o perdão de modo legítimo. Já falei: é a graça que nos habilita.
Se eu e você não estamos perdoando, de fato, os nossos ofensores, por mais grave que sejam as suas ofensas, com certeza, Satanás estará levando vantagens sobre nós e causando um barraco horroroso no meio da igreja de Cristo. É tudo o que ele mais gosta.
O perdão não é um opcional no desempenho da fé cristã. Corrie Ten Boom, que foi um exemplo cristão na defesa anti-sionista na época da segunda Guerra, disse: “não há outra forma de tocar o oceano do amor de Deus, senão perdoar e amar os inimigos”.
Não há escolha: ou perdoo ou pereço no meu mau humor. A agonia do magoado o atribula ao extremo e o mantém distante de verdadeiras amizades. Ninguém, minimamente sadio, gosta de conviver com gente feroz, ferina e fértil em fabricar lesões.
Os intrigantes vegetam entre o veneno que os consome intimamente e a dor que tenta inocular no próximo. Contudo, a toxina que é injetada no outro acaba também o intoxicando ainda mais. James Coulter afirmou: “o espírito que não perdoa como forma de orgulho é o assassino número um da sua vida espiritual”.
Para Jesus, a nossa oração só tem esta prioridade: perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo o que nos deve; e não nos deixes cair em tentação. Lucas 11:4. Parece que a tensão da tentação, neste caso, é não querer perdoar.
O perdão é um dom maravilhoso da graça de Deus e o portal que conduz à sala da comunhão. Li a história de uma mãe que perdoou o assassino do seu filho e, durante o período da condenação, ela o visitou semanalmente cuidando dele na cadeia. O resultado foi a sua conversão a Cristo e a transformação de um inimigo, num amigo da família.
Nós sempre teremos alguém atirando pedra em nosso telhado de barro; cabe a cada um de nós, subsidiados pela graça do Pai, consertar todas as goteiras, sem, entretanto, jogar os cacos das telhas quebradas no quintal daquele que nos alvejou. Bendito seja para sempre Aquele que nos garante tão grande empreendimento. Aleluia! Amém.
Glenio Fonseca Paranaguá - palavradacruz.com.br

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

MIGALHAS QUE CAEM DA MESA

ALIMENTANDO GIGANTES OU FORTALECENDO PIGMEUS.
A vanglória e a autocomiseração são farinha do mesmo saco. As duas fazem parte de um único elenco e ambas chamam a atenção da platéia tonta. A primeira é o orgulho no pódio, enquanto a segunda é o orgulho no pó, com o rosto sujo, cheirando a poeira.
A vanglória gosta de exibir o seu sucesso, requerendo a boa imagem que nutre nos bastidores. A sua preferência é sempre falar das conquistas e demonstrar o valor majestoso do seu portfólio no palco. Vive à caça dos holofotes para a sua visibilidade pública.
Como são ricos os detalhes desse discurso vaidoso, que tenta esbanjar seus dotes, esnobando até mesmo os traços da humildade como se fossem integrantes de sua personalidade altiva. Ouvir atentamente esse tipo de conversa vangloriosa com quietude e mansidão é um exercício de profundo quebrantamento espiritual.
Por outro lado, na contramão da vanglória, embora ateado pelo mesmo fogo da arrogância, corre, com aparente discrição ou, tão somente, com a fisionomia anêmica, por falta de sangue nas veias, o autocompadecimento insuspeito. É o agiotismo do coitadinho.
Aqui é que mora um grande perigo. Aquilo que parece ser humildade, não passa de orgulho mascarado. A cara lavada, sem qualquer traço de maquiagem, com trapos e fiapos pendurados, pode ser o fio mais sutil da malha presunçosa.
Lutero, o reformador, disse, certa feita: "tenho mais medo do meu coração justo, do que do Papa e dos seus Cardeais". Eu também: tanto o meu gigante guloso e obeso que tento alimentar com banquetes espetaculares, quanto o meu pigmeu raquítico, aquele me sinto constrangido a fortalecer, chamando a atenção, são ferozes demais. Neste caso, eu sempre enfrento uma guerra mundial com inimigos poderosíssimos em meu íntimo.
A vanglória e a autocomiseração são aparentemente opostas, no entanto, formam um par idêntico de irmãs gêmeas e siamesas geradas pelo velho orgulho de sempre. Ser ilustre e não ser vaidoso é tão difícil como ser humilde sem ficar amarrotado pelos cantos.
A humildade é uma das mais raras de todas as virtudes do ser humano, porquanto, todo aquele que se reconhece humilde já se envolveu numa escandalosa empáfia. Como é complicado demonstrar uma humildade sem alarde!
Vou findar o texto com um enigma proverbial: Melhor é ser humilde de espírito com os humildes do que repartir o despojo com os soberbos. Provérbios 16:19. Afinal das contas, cadê os humildes para que possa admitir minha arrogância e festejar com eles a humildade do Cordeiro como o dom da graça em nosso favor?
Se alguém pretende encontrá-los por aí, então se acocore com uma toalha e uma bacia nas mãos e ainda um bom microscópio; talvez haja algum pé que aceite ser lavado sem sapato alto ou timidez de inchado. Quem se propõe a tal façanha? Ai de mim! Não há alternativa para mim; só se for por Cristo em mim. GLÊNIO FONSECA PARANAGUÁ

terça-feira, 8 de novembro de 2011

MIGALHAS QUE CAEM DA MESA

O CANTO EM LUGAR DO LAMENTO
A minha história na terra começou com um choro estridente, pois eu já cheguei ao mundo berrando. Mas, parece que esta é uma narrativa muito comum a todos nós. Se não estou equivocado, o bebê que não chora, quando nasce, morre. Além do que, diz um velho adágio popular: "quem não chora não mama".
Por outro lado, a cultura deste mundo velho privilegia o lamento, o queixume, a choradeira. A criança chorona e birrenta sempre é atendida e o nosso padrão de conduta é nos condoer de quem se lastima, fazendo da lamúria uma moeda valiosa nos negócios que pretendemos levar vantagens.
O gemido agrega mais adeptos ao partido dos coitadinhos do que o riso. O sofrimento desperta a compaixão de outros sofridos ao formatar o sindicato dos plangentes. Por isso, a ladainha é o estilo mais propalado na reza diária daqueles que querem chamar a atenção, e a dor de cotovelo é a cantiga número um dos chifrados.
Aí de mim é o discurso preferido das vítimas. Mas, o hinário dos filhos de Abba começa com Aleluia de Handel. Os alforriados, mesmo sofrendo, têm sempre um canto em tom maior a entoar. Ninguém neste mundo está isento da dor e do sofrimento, embora a sua permanência tenha um tempo de validade limitado.
O salmista canta com esperança: Porque não passa de um momento a sua ira; o seu favor dura a vida inteira. Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã. Salmo 30:5. Segundo entendo, ele está dizendo que a correção é apenas por um instante, enquanto a graça é para sempre. Para os filhos repreendidos, as lágrimas secam rápido na face, ao passo que a festa da madrugada continua pelo dia eterno.
A minha tendência humana é lamentar. É chorar as pitangas. E sempre acho adeptos pela via da lamúria como companheiros neste coral dos sapos coaxando na lama, tão prontos a destoar da cantata dos redimidos.
Mas o culto dos alcançados pela graça cultiva o louvor em meio às chamas ardentes e dá concerto na cadeia escura, com os pés no tronco e os lombos lanhados. A turma da vida que nasce da morte costuma cantar no ardor do temporal, enquanto os descendentes do velho Adão só conseguem lamentar.
Pelo canto se descobre se a ave é do dia ou da noite. As canoras cantam à luz do Sol em espetáculo melódico de alegria. As noturnas são assombrações das trevas, além de serem agoureiras, quando grasnam, gritam e gemem os seus lamentos sombrios.
Assim, também, pela linguagem, se pode descobrir quem é filho de Deus ou quem é filho do Diabo. Lamento dizer, lamentavelmente, que a nossa fala lamentável, que se expressa sempre por lamentação ou lamúrias, não nos coloca na condição de membros efetivos do coral dos filhos de Abba.
Cantem filhinhos amados, cantem com alegria. Falem a linguagem da edificação. Louvem em plena tormenta, pois o nosso Pai é santo e reina entronizado entre os louvores dos seus filhos libertos e jubilosos. Aleluia. Glenio Fonseca Paranaguá

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

ABUNDÂNCIA BOA

"Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez;" (Filipenses 4:12 RA)

Quase todos os cristãos sabem o próximo versículo na ponta da língua, ainda que nem todos saibam encontrá-lo na Bíblia. Mas, curiosamente, se perguntarmos, a maioria não saberá este. Abundância é bom, escassez não.
Vivemos dias de uma oferta igrejista (ou igrejeira, não sei) na qual o que é bom é de Deus e o que não é bom é do inferno. Mesmo que o conceito de bom seja obscuro e cinzento. Meu time de futebol ganhar o campeonato é bom? É de Deus? E os irmãos que torcem para o outro time? Como fica? E candidato político? E ganhar causa na justiça?
Meu irmão entenda uma coisa de uma vez por todas: Paulo usa o termo "tanto" justamente para dizer que, embora tendo passado por muitas coisas, ele sabe encontrar no Senhor a força. Tudo posso (depois de experimentar o bom e o ruim) no Senhor que me fortalece. Não é triunfalismo, é experiência de vida, maturidade.
Quem não aceita ser humilhado jamais será honrado. Quem nunca teve fome não valoriza a fartura. Quem só conhece abundância não sabe do que estou falando. Glória a Deus pela vida que levo, na qual não me falta nada do que preciso. Não tenho tudo que eu quero, mas tenho tudo de que preciso. Glória a Deus por que, quando passei aperto, o Senhor foi comigo e vivi e venci para poder hoje te dizer: a foça vem Daquele que traz sobre nós o dia de sol e o chuvoso, o frio e o quente, o abundante e o escasso.
Não estou declarando que Deus tenha prazer no nosso sofrimento, mas que a dor ensina a gemer não duvide. A abundância é melhor, a riqueza é melhor, a fartura é melhor. Mas a melhor abundância de todas é a da presença do Pai, é a da força do Pai sobre nós. O resto é tão fútil e vazio que dá pena.
"Pai, Te amo. Obrigado pelo que Tu és, independente do que já me deste e que não é pouco. Obrigado por me ensinar a depender de Ti como eu preciso. Eu te amo, por que Tu nunca me faltaste."
Mário Fernandez - www.ichtus.com.br

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Aprendendo a orar ‘O Pai Nosso'

A vida que termina sob uma lápide com epitáfio é muito curta e sem sentido. Aqui e agora é pouco para quem tem fome do ilimitado.

Ser humano é ser alguém relacional. A solidão é uma tragédia e nós precisamos de nos comunicar. Mas, nós temos carências mais profundas, muito além de membros da fam'lia e de bons amigos. Somos uma raça com anseios transcendentes. Temos sede de significado eterno e almejamos compartilhar de uma intimidade pessoal com Alguém que nos ame incondicionalmente.
A vida que termina sob uma lápide com epitáfio é muito curta e sem sentido. Aqui e agora é pouco para quem tem fome do ilimitado. Fomos criados para um relacionamento sem os limites da morte, por isso gritamos por uma comunhão verdadeira. Dialogar é uma conversa entre duas pessoas amigas. É algo amistoso. Pedir é uma solicitação entre um carente e alguém com condições de atender. É coisa de necessitado. Orar é um diálogo entre um filho amado e o seu Pai amável. É assunto familiar.

Oração não é rezar. Não é repetição. Não é alguma coisa decorada. É uma conversa que pode até ter algumas petições, todavia nunca será uma lista de clamores e súplicas. É um bate-papo na sala íntima dos domésticos da fé. Portanto, Jesus nos ensinou a orar assim: Pai nosso. Pai, não padrasto. Pai, alguém que ama loucamente seu filho. Oração é o dialogo do filho com o seu Abba. É um assunto de solitude e jamais de solidão. Estar só, sem, contudo, encontrar-se sozinho. É viver acompanhado, entretanto, longe dos barulhos de fora. Trata-se de uma conversa com o Pai nosso do céu, que se importa conosco na terra. O Pai que é Pai, mas também é Rei. É Pai-Rei e não Rei-Pai. Ele não é mais Rei do que Pai e o seu reino de Pai é um reino de amor.

Como filho, quero experimentar a santificação do teu Nome, ó Pai. Porém sou incapaz de cumprir esta ordem tão significativa e tão elevada, por isso mesmo, eu te rogo que me faças um instrumento da tua santidade sob o governo do teu reino paternal. Não por imposição, nem por esforço, mas por tua graça.

Venha o teu reino de misericórdia e graça; dá-me sede dos teus próprios anseios. Tu sabes que a minha vontade está comprometida com os meus desejos egoístas, sendo assim, só a tua vontade que é boa, perfeita e agradável, pode me fazer um agente da tua vontade, capaz de fazer todas as coisas, de boa vontade.

Pai, eu tenho fome. Mas não é fome de pão de padaria. É fome do Pão do céu; fome de aceitação plena, sem qualquer rejeição. A broa nossa de cada dia não consegue satisfazer o meu apetite voraz daquilo que é permanente; da realidade eterna. O pãozinho francês, que se come de uma vez, só mata a fome do freguês por algumas horas. A minha miséria não se contenta com aquilo que é breve, transitório, provisório. Eu tenho fome mesmo é de Jesus, o maná de cima, o maná fresco do dia, e de cada dia.

Depois de ter sido alimentado hoje, com o Pão quentinho, eu tenho que tratar agora com os que me ofenderam há pouco tempo. As ofensas de ontem, graças à tua misericórdia, prontamente foram perdoadas. Eu sou grato porque na tua casa não há lata de lixo, nem precisamos acumular a sujeira, pois o lixeiro leva tudo imediatamente. Porém, como ninguém vive neste mundo de espinhos sem alguma espetadela, e, como eu também, acabo ferindo ao meu próximo, venho te pedir: Ó Pai, perdoa-me com o perdão do teu Filho, para que eu possa perdoar aqueles que me feriram. Por favor, não me permitas que eu seja um carcereiro aprisionado na cadeia dos ressentimentos de meus ofensores. Assim como o Senhor me perdoou, eu também estou pronto a perdoar.

Pai, eu sou tão débil e sujeito às terríveis tentações. A carne é fraca e o inimigo é astuto. Mas, eu não venho te pedir que me livres das tentações. O que eu te peço é que me sustentes, com tua graça, quando estiver passando pelas provas. Se eu não for tentado, eu vou ficar tentado a crer que sou especial, e, deste modo, ficarei mais arrogante ainda do que tenho sido. Abba querido, eu te rogo: Sê tu, a minha torre forte na hora das tormentas insuportáveis e, quando o maligno estiver me açoitando, livra-me dele. Quero confessar, com alegria, que pertenço ao teu reino. Sou teu filho guardado pelo teu poder e almejo ainda, de boa vontade, viver somente para a tua glória. Reitero, com grande júbilo, o que me tem ficado notório a cada dia: o Reino, o Poder e a Glória são atributos permanentes de tua Pessoa excelsa. Amém.

Na oração do Pai nosso, nós temos os avenidas por onde podemos passear em comunhão com o nosso amado Abba. Cada um das sete vias nos conduz a uma intimidade extraordinária. Então, ao orar, ore assim, sobre qualquer motivo:
1. Fale com o seu Pai.
2. Suplique a santificação do seu Nome.
3. Peça a governabilidade do reino paterno em a sua vida.
4. Aceite a sua vontade acima de tudo.
5. Coma do Maná de Deus, cada dia.
6. Creia no perdão divino e perdoe os que o golpeiam.
7. Fique debaixo da proteção durante a tentação, suplicando a libertação do maligno. Finalmente, permaneça adorando a Deus, reconhecendo que o Reino, o Poder e a Glória pertencem apenas à Trindade Santa.
Viva sempre com ações da graças e louvores no seu coração. Desconheço o autor, se alguém souber me informe.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

MENTALIDADE DE FILHO MAIS VELHO



Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos. Lucas 15:29.

Este versículo faz parte de uma das mais conhecidas e queridas parábolas ensinadas por Jesus, a “parábola do filho pródigo”. Esta parábola, diferentemente da maioria, traz mais de uma mensagem. A mais comentada e pregada é a maneira graciosa com que o pai recebe o filho gastador, que se arrepende após ter dissipado a herança recebida. Ou seja, trata da mensagem do amor perdoador que Deus tem para com os pecadores.
Alguns títulos dados a esta passagem são: “a parábola do filho pródigo”, “o filho pródigo”, “a parábola do filho perdido”. Observamos, com isto, que a ênfase dada a este texto recai sempre sobre o filho mais novo. Todavia, no versículo 11, Jesus inicia sua fala da seguinte maneira: “certo homem tinha dois filhos”. Sendo assim, nosso olhar precisa estar atento não somente ao que acontece com o filho mais novo, que é o mais famoso da história, mas também ao que acontece com o filho mais velho.
E para entendermos o que acontece com o filho mais velho, é preciso destacar o contexto em que Jesus conta esta parábola. No início do capítulo 15 de Lucas, está a explicação das três parábolas que se seguem. Jesus estava, mais uma vez, falando a publicanos e pecadores.
O texto nos diz que essas pessoas aproximavam-se de Jesus, achegavam-se a ele. Jesus não só os recebia, como também fazia refeições com eles (verso 2). Na verdade, não era Jesus quem procurava por estas pessoas, mas elas é que eram atraídas por Jesus. Por outro lado, ao mesmo tempo que Jesus atraía os proscritos da sociedade, ele também incomodava, em muito, um outro tipo de pessoas, os religiosos daquela época, ou seja, os fariseus e os escribas. Para estes, ajuntar-se com pecadores, até mesmo para ensinar a Lei, era algo proibido. Comer com estas pessoas, então, era o mesmo que dar boas-vindas a elas e isto era algo inaceitável.
Esta introdução do capítulo 15 do Evangelho de Lucas é essencial para o entendimento da parábola do filho pródigo. O cenário, segundo o qual ela é contada, é este: Jesus atraía pecadores e comia com eles; e este seu comportamento incomodava os religiosos, que viviam murmurando. Por causa desta reclamação dos religiosos, Jesus, então, apresenta três parábolas. A primeira (versículos 3 a 7), que é a da ovelha perdida. A segunda (versículos 8 a 10), que é a da dracma perdida. E a terceira (versículos 11 a 32), que é a do filho pródigo. A essência da mensagem das duas primeiras parábolas é mostrar o amor de Deus pelo pecador e que é Ele quem busca o perdido e não o inverso. Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. João 6:44. Nós o amamos porque ele nos amou primeiro. 1 João 4:19.
Destas três parábolas contadas por Jesus, a parábola do filho pródigo é a mais detalhada. Nesta parábola, existem duas seções principais. A primeira, do versículo 11 ao 24, mostra a graça de Deus, através do seu amor pelos pecadores, que é a força motriz do Evangelho. A segunda seção, do versículo 25 ao 32, mostra a indignação do filho mais velho, resumida na seguinte fala: há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos. Lucas 15:29.
Alguns estudiosos sugerem que esta parábola possui um título inadequado, que ela deveria se chamar a “parábola dos dois filhos perdidos”, numa clara indicação de que, muito embora o filho mais velho estivesse em casa, seu coração estava, de fato, muito distante do pai, tão perdido quando o mais novo. Alguns até sugerem que esta passagem deveria se chamar “a parábola do filho mais velho”, numa demonstração de que a mensagem transmitida refere-se mesmo a este último. A intenção maior é destacar a reação inesperada e egoísta daquele que, aparentemente, era o filho obediente e bem comportado.
Já foi sustentado, por alguns, que a porção do texto que trata do filho mais velho (versículos 25 a 32) deveria ser dissociada da primeira seção, que trata do filho mais novo. Este é um raciocínio equivocado. Em verdade, as duas seções precisam ser lidas e interpretadas como sendo uma só. É bem possível afirmar que o alvo desta terceira parábola é exatamente contrastar as reações do pai e do filho mais velho diante do pródigo, ou seja, a passagem do filho pródigo existe para se poder demonstrar e evidenciar a reação e a mentalidade do mais velho.
Quando nos lembramos do murmúrio dos escribas e fariseus (versículo 2) diante das confraternizações de Jesus, conclui-se que a parábola do filho pródigo tem mesmo este sentido de tratar com os religiosos: todos os excessos do filho mais novo não lhe fecharão a entrada do céu, pois ele veio arrependido até seu pai; mas todas as virtudes do filho mais velho, de nada lhe aproveitarão. Portanto, a passagem trata não dos pecados como empecilho para o céu, mas, por incrível que possa parecer, das “virtudes”. Na realidade, é a justiça própria escondida pelo manto da virtude que impede o filho mais velho de ser reconciliado com o pai. Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. Lucas 15:7.
Jesus quis ensinar que Deus recebe e perdoa pecadores. Todavia, mais ainda, quis ensinar que aqueles que se consideram justos aos seus próprios olhos, estes não têm lugar no reino dos céus. Os escribas dos fariseus, vendo-o comer em companhia dos pecadores e publicanos, perguntavam aos discípulos dele: Por que come [e bebe] ele com os publicanos e pecadores? Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores. Marcos 2:16-17.
Na verdade, Jesus quer mostrar com esta parábola que tanto um filho como o outro estão perdidos, que ambos se rebelaram, ainda que um tenha feito isso ao ser muito mau e o outro, ao ser extremamente bom. O irmão mais novo representa o homem que não conhece a Deus, está separado Dele e vive por seu autoconhecimento. O irmão mais velho representa o fariseu, o religioso que faz da sua conformidade moral e de seus esforços, um meio para se salvar. O pecado do irmão mais novo é imaginar que não precisa de Deus. O pecado do irmão mais velho é imaginar que é o próprio Deus, o seu próprio Salvador.
Tendemos a nos ver sempre como o filho mais novo, como se fôssemos o filho pródigo e nos regozijamos ao ver o amor acolhedor de Deus, nosso Pai, à nossa disposição. Todavia, é muito comum também imaginar que não somos tão estimados por Deus, como deveríamos ser; que não somos tão reconhecidos por Ele, como deveríamos ser; que não somos tão recompensados por Ele, como deveríamos ser; que não somos tão valorizados por Ele, como deveríamos ser; e nos indignamos quando alguém é mais estimado, mais reconhecido, mais recompensado, mais valorizado, do que nós. Esta é a mentalidade do filho mais velho. E ele está tão perdido quanto o filho mais novo.
O autor Timothy Keller, ao falar desta parábola, argumenta que era o orgulho por suas boas ações, e não o remorso por suas falhas, que impedia o filho mais velho de participar do banquete da salvação. O problema do filho mais velho era seu farisaísmo, o modo como ele usava seu histórico moral para colocar Deus e as outras pessoas em uma posição de dívida e para poder controlá-los, para que fizessem o que ele desejava.
O que separa o filho mais novo de Deus é, obviamente, o pecado. E pecado significa errar o alvo, significa incredulidade. O que separa o filho mais velho de Deus é o pecado da justiça própria. As Escrituras dizem que a nossa justiça é como “trapo de imundície”. Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia. Isaías 64:6a. O filho mais velho lembra o pai que tem direitos, pois o serve há muitos anos e nunca o desobedeceu. Em outras palavras, quer mostrar o quanto é justo e merecedor.
Por outro lado, o que nos reconcilia com o Pai celeste é a justiça de Deus mediante a fé em Cristo Jesus (Romanos 3:22). A justiça de Deus nos foi imputada, mediante a obra redentora de Cristo, na cruz do Calvário. É assim que somos justificados de nossos pecados, é assim que somos tornados justos diante de Deus. A grande pergunta que nos é feita e não quer calar é: como pode o homem ser justo para com Deus? Jó 9:2b. Não há meio algum de se obter esta justiça, a não ser pela graça do Pai. Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus. Romanos 3:24.
Onde você está baseando a sua salvação? Em seus méritos? No seu tempo de “serviço” para Deus? Você busca controlar Deus por meio de sua obediência a Ele e a sua lei? Você transforma sua própria história pessoal em créditos colocando Deus em uma posição de devedor? Você é um justo que não precisa de arrependimento? Lembre-se que a salvação é pela graça, unicamente pela graça. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Efésios 2:8-9.
Em nossa história pessoal com Deus, começamos como filhos mais novos, pródigos. Mas, antes de terminarmos a história como filhos mais novos que retornam à casa do Pai, arrependidos e perdoados, mudamos de história, e assumimos a posição e a mentalidade de filhos mais velhos, cheios de justiça. Só que os filhos mais velhos também estão perdidos. Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna. Tito 3:5-7.
Lembre-se que, agora, a justiça de Deus se manifestou SEM lei. Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque não há distinção. Romanos 3:21-22. Se você tem alguma coisa do que se orgulhar; acha que tem algum direito para reivindicar; ou, sente-se, algumas vezes, injustiçado; você está transitando no perigoso território das obras, isto é, você está na posição do filho mais velho, contabilizando seus feitos. Contudo, a salvação não vem de obras. A glória é somente de Deus e Ele não a divide com ninguém. Fernando Prison - www.palavradacruz.com.br

COM CLAREZA OU PELA METADE?

"Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei;" (Gênesis 12:1 ARA)

Interessante que, para Noé, Deus deu tantos detalhes sobre sua missão e para Abrão foi na base do "corre, rapaz!!!". Totalmente diferente com um e com outro. Noé, faz um barco com tantos metros de comprimento, da madeira tal, com altura tal, com uma porta, pinta de tal cor... Com Abrão é apenas "se manda".
Como Deus trata com você? Suas missões são sempre claras e detalhadas com todas as especificações que um engenheiro poderia desejar? Ou nem sempre? Ou nunca é assim?
Nem um nem outro é melhor, entenda. O importante é que Deus tenha falado com eles e conosco, indiferentemente de ter dado mais ou menos detalhes, de ter sido genérico ou específico. Dureza é nunca ouvir nada, não saber nem se tem algo para fazer muito menos do que se trata. Na minha experiência com o Pai, ao longo de já uns 24 anos, muito mais fui tratado como Abrão do que como Noé. Já recebi ordens claras, mas foram menos do que as que vieram pela metade. Muito menos.
Na minha mente exata, matemática, engenheirística, cheia de pensar... Que desafio! Quanta ansiedade à toa, se tanto conheço o Deus a quem sirvo. Mas dou-me conta de que Abrão estava sendo preparado para ser Abraão, nada mais nada menos que o pai da fé (certeza do incerto). Para quem tem fé, não é necessário explicar muita coisa, ou talvez nada. Aleluia, se estou sendo preparado pra qualquer coisa com Deus, estou dentro! E feliz!
Não estou dizendo que Noé não tinha fé, pois isso seria uma bobagem tremenda. Mas ele recebeu mais detalhes por que Deus quis assim. Será que ele teria tido dificuldade de fazer a arca com menos informações? Nunca saberemos, mas podemos ter certeza de uma coisa: Deus queria uma arca e conseguiu. Queria um homem de fé em outra terra e conseguiu. Comigo Ele há de conseguir o que deseja. E com você? Vai ser difícil?
"Pai, nada se compara a andar contigo, ter a Tua mão nos guiando e sabendo que estamos fazendo a Tua vontade. Faz de mim alguém obediente e confiante independente de quantos detalhes eu tenha."
Mário Fernandez - www. ichtus.com.br

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O DEUS INCANSÁVEL

Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o SENHOR, o Criador dos fins da terra, nem se cansa, nem se fatiga? Não se pode esquadrinhar o seu entendimento. Isaías 40:28.

Por definição, Deus não precisa de coisa alguma. Ele não carece de nada. Se ele precisasse de algo, seria um ser necessitado, em que faltava alguma coisa; porém, na Bíblia ele se manifesta por sua aseidade, isto é: um ser que se basta a si mesmo. Deus não precisava criar nada do que existe para se realizar.

Ele não requer qualquer realização. O Deus coletivo, revelado no seu nome Elohim; (um plural majestático e mais abrangente do que um aumento quantitativo) é a realeza real realizada realmente por sua natureza Divina.

A Trindade se satisfaz a si mesma. Nela não há carência em seu íntimo, nem solidão em seus relacionamentos. Além do que, só o Deus triúno, todo suficiente, é capaz de satisfazer a carência de todos os carentes.

Deus é o eterno antes da criação e nele não há os efeitos do tempo. Ele nunca envelhece, nem se desgasta. Não há entropia na eternidade, por isso, ele é o mesmo, tão eterno no princípio quanto o é no fim, já que ele nunca será mais do que é, uma vez que é sempre o mesmo em qualquer tempo ou fora dele.

Para a Divindade não há passado, nem futuro. Há um presente permanente; um tempo que não tem tempo, nem compasso, nem cronômetro, nem espaço. Deus não se cansa e jamais se fatiga. Ele nunca perde energia de seu ser.

Depois de ter criado o universo, Deus continua o mesmo, sem a exclusão de um átomo sequer de energia do seu ser Divino. Ele não se consome por qualquer ação que fizer.

A Trindade é laboriosa, mas não se exaure. Trabalha sempre sem jamais sentir cansaço ou enfado. O descanso do Deus trino na criação não é o de férias remuneradas por tempo de serviço, muito menos o de um empregado que saiu da empresa por causa de estafa. O descanso era apenas a conclusão plena da sua obra perfeita.

Em Deus não há stress, mas em suas ações há um certo strike, como num jogo de boliche. Ele derruba toda presunção que quer entender e explicar a grandeza do seu trabalho. Ele trabalha e não se cansa, mas nós, seres arrogantes, ficamos cansados só em pensar na grandeza incansável do labor Divino.

Jesus foi muito claro quanto ao trabalho Divino: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. João 5:17.

Aqui também temos uma grande dificuldade de compreensão desta realidade, visto que lidamos com o eterno e o temporal ao mesmo tempo. Fica muito difícil entender o incansável Divino com o cansaço humano. É complicado encontrarmos um Deus exausto no esqueleto humano.

Na dimensão divina, Cristo nunca se cansa, mas em sua condição humana, Jesus se cansou: Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto à fonte, por volta da hora sexta. João 4:6.

Com certeza aqui reside o mistério da redenção. O Verbo encarnado se cansou. O Deus que nunca se cansa, acaba fatigado pela sua natureza humana. Não podemos separar as duas naturezas da pessoa de Cristo Jesus.

Mesmo assim, este era um cansaço que vinha promover o descanso da humanidade consumida pelo enfado do pecado. A encarnação Divina trazia no seu âmago a proposta do descanso para as almas cansadas. Jesus se cansou para nos conduzir ao descanso da sua graça plena, através de nossa morte e ressurreição com ele.

Nisto ele foi incansável até a sua ressurreição. Aquele que é o Eterno e nunca se cansa, entrou no tempo e cansou-se por algum tempo, a fim de produzir um descanso eterno para todos que receberem o seu convite: Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Mateus 11:28.

Paradoxalmente, o ser humano cansado não aprecia a proposta do descanso oferecido por Deus. O Senhor oferece descanso ao cansado, mas ele não quer: Este é o descanso, dai descanso ao cansado; e este é o refrigério; mas não quiseram ouvir. Isaías 28:12.

Para o presunçoso, especialmente o religioso legalista, mais vale um pouco de esforço do que a abundância do descanso. Ele prefere ser um conquistador ao pódio do que ser um herdeiro na rede.

É difícil Sua Alteza se reconhecer um mendigo vivendo da graça, e mais complicado ainda é receber a esmola da misericórdia.

Por causa do nosso sistema pedagógico do mérito e a nossa soberba pecaminosa, fica impossível, para o ego, receber algo que não lhe tenha custado algum esforço, sem antes ser convencido pelo poder do Espírito Santo e pelo quebrantamento por meio das marteladas do sofrimento.

Do ponto de vista espiritual, o ser humano é avesso a tudo o que é rigorosamente gracioso. Ele sempre quer corresponder com alguma participação por menor que seja. A graça o ofende em cheio.

Um morto espiritual não tem nada espiritual para poder contribuir para a sua vida espiritual, pois está morto. Um defunto, fisicamente falando, só evolui em sua podridão, e um morto espiritual, vivendo no pecado, cresce apenas em sua incredulidade pecaminosa.

Ninguém pode viver neste mundo se primeiro não for gerado fisicamente, vindo depois a nascer. Ninguém pode renascer espiritualmente, se antes não for vivificado, pelo poder do Espírito Santo, através da semente divina ou o esperma espiritual que é a Palavra de Deus.

O ser humano natural não busca a Deus naturalmente. Ele é um fugitivo de Deus e amante exclusivo de si mesmo.

O pecado tornou o gênero adâmico inimigo de Deus, criando, ele mesmo os seus deuses à sua imagem e semelhança. Aqueles que foram criados a imagem e semelhança do próprio Criador, agora criam os seus deuses à imagem de sua criação decaída.

Assim, a religião criada pela criatura fraturada pela queda, acaba faturando um saldo positivo aos seus olhos, e criando um sistema de aceitação pelo desempenho. Na religião, o que tem valor é a conduta movida à justiça própria.

Já vimos que Deus, sendo Deus, não pode se cansar. Ele não se desgasta, nem perde energia alguma. Mas o que me assusta em tudo isso é a incansável persistência de Deus em buscar um fugitivo que não lhe quer de modo nenhum.

Vejamos como Deus fala do seu povo, Israel: Quanto mais eu os chamava, tanto mais se iam da minha presença; sacrificavam a baalins e queimavam incenso às imagens de escultura. Oséias 11:2.

Embora o povo continuasse rebelde e sujeito às consequências de sua rebeldia, mesmo assim o Senhor continuava atraindo o seu povo para si. Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo de sobre as suas queixadas e me inclinei para dar-lhes de comer. Oséias 11:4.

Abba é incansável na busca do filho alongado, eleito para ser conforme a imagem do seu Filho. Ele nunca se impacienta com a demora do fugitivo, pois em sua graça, ele sabe quando agir para que o pródigo caia em si e volte para o aconchego daquele que nunca desiste de amar incondicionalmente.

O Deus infatigável nunca se cansa em amar o inamável com o seu amor imorredouro. O verdadeiro amor nunca se cansa de amar o sujeito amado.

O amor de Deus não perde o tempo de validade e nunca caduca. Por outro lado, amor condicional é troca. Puro comércio. Uma condição positiva, seja ela qual for, pressupõe mérito, e este desqualifica a graça.

Qualquer valor pessoal, por mais insignificante que seja, invalida a obra da graça de Deus manifesta em Cristo Jesus. Sendo assim, o Deus da graça financia graciosamente a humilhação do arrogante, para que, pela graça, o quebrantado receba a suficiência de Cristo como única forma de sua aceitação pelo próprio Deus.

Deus, em sua incansável paciência, salva o pecador indigno pela graça, convencendo-o do pecado, por meio do Espírito Santo; santifica o salvo, também pela graça eficiente, mediante a vida de Cristo em seu interior; e quebranta o que está sendo santificado, pela mesma graça, através dos sofrimentos, a fim de que este quebrantado seja, de fato, a morada do Altíssimo, sobre a terra.

Deus trabalha o tempo todo incansavelmente. Ele nunca descansa, mas também não se cansa na obra da redenção daqueles que foram predestinados para serem conformes a imagem do seu Filho.

Tendo Deus começado uma boa obra na vida de alguém, certamente vai terminá-la. Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus. Filipenses 1:6.

Depois de vermos a incansabilidade Divina em sua natureza e em suas ações, temos, contudo, que apresentar uma área em que Deus se mostra cansado. É uma metáfora desconcertante. As vossas Festas da Lua Nova e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer. Isaías 1:14.

O Deus incansável se cansa desta adoração vazia e deste ritualismo sem qualquer significado. O Deus que nunca se cansa fica cansado com a nossa religiosidade humanista e totalmente oca.

Aqui precisamos fazer uma avaliação criteriosa. Será que o nosso culto não está sendo motivo de enfado Divino? Precisamos averiguar a nossa atitude de adoração diante do expressado cansaço de Deus em relação aos nossos rituais antropocêntricos e vazios.

Ó incansável Pai, dá-nos o adequado senso de adoração diante do teu trono de graça. Faze-nos verdadeiros adoradores que o adorem em espírito e em verdade. Amém. Glenio Fonseca Paranaguá www.palavradacruz.com.br

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

SOL DA JUSTIÇA

“Mas para vós outros que temeis o meu nome nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas; saireis e saltareis como bezerros soltos da estrebaria.” (Malaquias 4:2 ARA)
Ouvi uma frase por estes dias que me chocou e me deixou bastante reflexivo (pra não usar o termo deprê). Disse assim “onde brilha o sol da justiça não há lugar para estrelas”. Não sei quem é o autor, mas sou grato pela inspiração de Deus a ele.
Confesso que tenho visto tanta estrela no nosso meio que às vezes parece que o sol esmoreceu ou ficou nublado sobre a terra. Isso é ruim, muito ruim. O sol é justiça e as estrelas são… Bom, são outra coisa. Toda vez que fazemos alguma coisa que busca nos fazer brilhar, é estrelismo. Precisamos apenas refletir a luz e o brilho do sol da justiça. Menos do que isso é escuridão e mais do que isso é estrelismo.
Tentamos ser estrela toda vez que fazemos questão que nosso nome ou imagem apareçam. Avalie o seguinte: você faria o que faz na igreja sem o cargo? Seria talvez um pastor, missionário ou apóstolo sem o título? É algo para se pensar, pois já vi pessoas declinando de suas tarefas por que perderam o cargo. Eu tenho servido na igreja local sem nenhum “reconhecimento” há alguns anos – não tenho sustento, não ocupo nenhum cargo, nem prego no culto. Mas sirvo e faço com alegria para ressaltar o brilho do sol da justiça. Faço coisas que sei que são importantes para a congregação, mesmo que a maioria nem saiba que sou eu que estou por trás. Não é uma questão de estilo, mas de posicionamento.
Deixar brilhar o sol da justiça é ter menor EU nas frases. É falar mais do que Ele faz. É não dar importância se o executor será reconhecido, desde que Ele seja glorificado. É apontar todos crédito para Aquele que merece. Eu posso fazer mais nesse sentido. Se você tambem pode, junte-se a mim e vamos nos esforçar para que brilhe o sol – e somente Ele.
“Senhor, tentar repartir a Tua glória é algo inaceitável e que com certeza só vai nos levar ao distanciamento de Ti. Ensina-me a ser mais focado em Ti e menos em mim.”
Mário Fernandez - www.ichtus.com.br

domingo, 14 de agosto de 2011

OS DOMICÍLIOS DIVINOS

Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos. Isaías 57:15.

O menino indagou ao seu pai: – onde Deus mora? Esta é uma questão teológica muito complicada. Santo Agostinho disse com bom humor: Deus é um círculo infinito cujo centro está em toda parte e cuja circunferência não está em lugar nenhum. Deus é espírito infinito, e sendo um espírito não ocupa lugar no espaço.

W. N. Clarke afirmou também: se Deus não estiver em todos os lugares, ele não é Deus verdadeiro em lugar algum. Apesar de Deus não ocupar qualquer lugar no espaço, nem estar limitado ao tempo, ele, em sua transcendência, habita a eternidade, e em sua imanência, com os abatidos de coração ou quebrantados de espírito.

A primeira morada do Altíssimo é a eternidade. Nesta dimensão descomunal nós até podemos ser encontrados pelo ele, mas nunca podemos sondá-lo de fato. Assim, pode-se dizer que ele vive no Palácio Absoluto da inescrutabilidade do entendimento, isto é, fora da nossa compreensão tridimensional. Ele é o eterno escondido de nossa mente.

Foi nesta grandeza que o apóstolo Paulo declarou: Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Romanos 11:33. Deus conhece o caminho por onde nós andamos, mas nós nunca conheceremos as suas trilhas.

A segunda morada do Alto e do Sublime é no casebre de um coração humilhado. Esta é a casa de veraneio da encarnação do Verbo. O transcendente se tornou imanente para poder encontrar-se com o sujeito arrogante que quer ser como Deus. Só um Deus humano e histórico pode mudar a história do homem no pecado.

O Deus encolhido veio quebrantar a arrogância do ser humano que quer ser expandido até chegar à dimensão da Divindade. Esse projeto de humilhação da humanidade presunçosa visa à desconstrução da egolatria enlouquecida e a construção de uma morada permanente de Deus na pessoa humana, já que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas, mas em humanos reconstruídos pelas suas mãos divinas que sangraram sobre a cruz do Calvário.

Primeiro Cristo se fez homem para alcançar humanamente os homens ensimesmados. Depois ele se fez servo para tocar nos soberbos que se presumem ser os senhores na história. E, finalmente, ele morreu para matar o nosso ego que não suporta viver fora do controle neste mundo. Perto está o SENHOR dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido. Salmos 34:18.

O transcendente se tornou imanente para se aproximar do iminente sujeito que deseja ser Sua Excelência, o eminente Senhor do universo. A teomania é o pecado dos pecados que carece de um quebrantamento radical.

Antes do ser humano passar por uma substituição, ele precisa de um quebrantamento. As boas novas são as notícias da redenção que requerem arrependimento. Para que haja contrição é preciso haver quebrantamento. Vinde, e tornemos para o SENHOR, porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará. Oséias 6:1.

O Senhor promove o fracasso do soberbo para que ele possa ser humilhado em sua auto-suficiência e, deste modo, em sua humilhação, venha a clamar pela misericórdia divina. Os quebrantados são os únicos ouvidos capazes de ouvir a mensagem de Cristo.

Sem o quebrantamento não haverá a vivificação do Alto, nem o avivamento espiritual. Foi preciso um quebra pau na esfera espiritual para erguer a cruz que é capaz de quebrar a auto-suficiência desta turma inquebrantável por si mesma.

O evangelho é o anúncio divino aos que foram quebrantados pela graça. O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados; Isaías 61:1.

A reconstrução demanda o quebrantamento, e este, o goro da soberba. Nada, além da cruz de Cristo, pode abortar a altivez do pecado.

A pregação das boas novas só tem sentido se o cara estiver vivendo em maus lençóis. O nadador só grita por socorro quando as forças já se esvaíram. Por isso a proclamação do evangelho atinge apenas aos quebrantados, isto é, aqueles que já fizeram de tudo e não obtiveram nenhum êxito em sua vida de confiança em Deus e que foram quebrantados pela graça de Deus em Cristo Jesus.

Antes de viver pela fé o ser humano vive pela sua autoconfiança. Tudo aquilo que é auto, isto é, próprio do sujeito pecaminoso, é contrário à obra do Alto e muito perigoso para o ego altivo. O rompimento da auto-estima, por exemplo, é a porta aberta para a estima do Alto. O Altíssimo habita apenas a eternidade e os corações quebrantados e contritos. Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus. Salmos 51:17.

Quem se auto-estima não estima ainda a estimativa do Alto. Quando Deus vem habitar no contrito e abatido de espírito é porque ele quebrantou as expectativas do ego e veio para vivificar com a vida do Alto, aquele que não pode mais confiar em si mesmo.

O ser humano no pecado é habitado por um ego injusto, insatisfeito e insubordinado. É um inquilino cruel para o usufruto de uma vida plena de significado. Sendo assim, a proposta do Alto é a substituição do ego indomável pelo Cristo manso e humilde de coração. A auto-estima é permutada pela estima do Alto.

Não mais eu, mas Cristo é a proposta de Deus para a libertação dos oprimidos. Esta substituição de locatário acaba expulsando um déspota desgostoso e recebendo um nobre cavalheiro que vem habitar neste barraco humano com o caráter de Sua Alteza.

O grande milagre do evangelho é olhar para uma carcaça humana é ver o Espírito de Deus agindo com gentileza em seu ser. Olhamos e vemos que o corpo é de um ser humano, porém aquela atuação é divina, embora percebamos que não esteja em toda a sua perfeição, por causa do velho barraco de barro esturricado.

O Alto, o Sublime habitando a eternidade é inacessível para a nossa mente finita, mas o Alto habitando um ser que foi sempre autoritário, autônomo e autocentrado é um prodígio fora de série. Não existe coisa mais maravilhosa do que ver Cristo, o Deus Altíssimo, habitando e vivendo numa pessoa quebrantada pela graça plena.

A Trindade Santa habita a eternidade em sua grandeza infinita, conquanto habite também, por meio da humilhação de Cristo, num casebre de barro; esse, sim, é um lugar incomum para a habitação divina, mas foi esse lugar que Deus escolheu para ser a sua morada permanente. Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. João 14:23.

Além do Pai e do Filho terem vindo fazer morada em nossos corpos mortais, temos também o Espírito Santo fazendo destes corpos o seu santuário. Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? 1 Coríntios 6:19.

Isto me parece um grande absurdo dizer que o Deus absoluto habita em mim em sua plenitude. A minha lógica esbarra na finitude do meu ser limitadíssimo. Mesmo assim, posso entender que um recipiente transbordante de água do oceano Atlântico, não contém todo o oceano, mas está cheio plenamente com a água do mar.

Todos aqueles que foram quebrantados por Deus para serem habitação dele aqui na terra não contém a absoluta dimensão da Divindade em seu ser, mas todos estão contentes por conter a plenitude Divina que lhe é possível receber.

Como moradas de Deus somos pedras vivas e participantes do seu Templo Sagrado no mundo. Cada pedra viva formou o Edifício espiritual que é a Igreja. O mistério da redenção nos mostra que Deus nos quebranta para nos fazer suas moradas, para que, pela sua graça, nós possamos fazer dele a nossa eterna morada.

Sem quebrantamento operado pelo próprio Deus nunca haverá avivamento espiritual. Sem avivamento não há vida espiritual genuína. Por isso mesmo, só o verdadeiramente quebrantado pode promover uma residência para próprio Deus na existência humana e uma autêntica demonstração da fé cristã.

O resumo de tudo isto se encontra nestas três preposições: de – apontado para a origem de tudo; por – falado do meio pelo qual tudo acontece e para – designando a finalidade de tudo. Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! Romanos 11:36. Glenio Fonseca Paranaguá - palavradacruz.com.br

sexta-feira, 22 de julho de 2011

SEM MÁGICA

Então profetizei como se me deu ordem. E houve um ruído, enquanto eu profetizava; e eis que se fez um rebuliço, e os ossos se achegaram, cada osso ao seu osso.” (Ezequiel 37:7)

Fui alertado por um leitor atento e quero ser sensível à voz de Deus sobre o que falo e escrevo. Esta meditação é fruto do que creio e mediante este alerta, pelo qual sou grato e pedi permissão para usar.
Quando colocamos nossa fé na operação sobrenatural do Senhor, não podemos esperar mágica. Profetizarmos sobre o osso seco de uma crise financeira não é bilhete de loteria nem cheque ao portador. Meu Deus é poderoso para fazer cair dinheiro, contratos, perdão de dívidas – literalmente do céu. Mas faça sua parte e continue estudando, se aperfeiçoando, trabalhando. Devemos profetizar sobre um casamento tão morto quanto um osso seco, mas as feridas continuarão lá e quando forem curadas (pois eu creio que são) as cicatrizes ficarão lá. Podem não incomodar, não sangrar, não infeccionar e talvez nem coçar. Mas estarão lá.
Deus fará a parte Dele e tenho visto curas físicas espetaculares, da pessoa acordar lúcida de uma isquemia cerebral, há mais de duas semanas fora de si. Simplesmente acordou. Oramos, algo aconteceu, foi o Pai. Mas também tenho visto servos de Deus sofrendo e até mesmo morrendo de câncer sem serem agraciados com uma cura. E claro, também tenho visto gente sendo tratada pela medicina com ou sem sucesso, graças ao toque do Senhor. Deus é soberano, não importa o meio que decida usar.
Se formos falar tudo que vai em nosso coração faltará espaço. Mas o recado é simples e direto: ore com a mesma fé não importando se a resposta venha montada em uma lesma ou num alazão. Creia no mesmo Senhor e Deus Vivo, quer o milagre seja imediato ou consuma anos. Seja obediente como Ezequiel, seja algo simples ou impossível.
“Senhor, ajuda-me a ser autêntico na Tua presença, pois não sou naturalmente bom nisso. Quero te obedecer independente de ser attendido como eu quero ou de outra forma.” Mário Fernandez - www.ichtus.com.br

domingo, 17 de julho de 2011

BATALHA ESPIRITUAL OU BANDALHA ESPIRITUAL?


Como editor de livros cristãos fiquei impressionado ao descobrir em uma pesquisa junto a livrarias evangélicas que um dos três assuntos que mais vendem livros entre a nossa gente é batalha espiritual. Prova de que nós, cristãos, somos absolutamente fascinados por esse assunto. Queremos ver nosso Deus guerreiro arrebentar com o capeta, mandá-lo pro quinto dos infernos a pontapés, sob nossos brados de glória e aleluia. Entendo muito bem do assunto. Fui convertido numa igreja que dava muito valor a isso, onde o diabo era uma figura onipresente nas orações, nos cultos, nas conversas, no dia a dia dos irmãos. Parecia até que ele tinha cadeira cativa na primeira fila. Hoje, tendo lido, vivido e praticado minha fé de forma mais sólida, me atrevo a enxergar aquilo que considero um grande erro no discurso cristão com relação ao Diabo. E é sobre isso que quero conversar com você. 
Antes de mais nada, preciso avisar aos adeptos do liberalismo teológico que os respeito mas não concordo com vocês. Acredito sim que Satanás e os demônios são seres pessoais, que atuam sim nas esferas terrena e celestial, militando contra a Igreja de Cristo. Creio em possessão demoníaca e já participei de exorcismos (não televisionados e sem plateia, ressalte-se) em que presenciei situações que ninguém nunca me convencerá terem sido crises de epilepsia. Então sou bem ortodoxo, fundamentalista e bem pouco iluminista quando o assunto é demonologia. Creio que, ao contrário do que defende a Teologia Liberal, Satanás é de fato uma entidade pessoal. Só para você ter uma ideia, há nas escrituras 177 menções ao Diabo em seus vários nomes. Além disso, a Bíblia deixa claro que ele tem intelecto (2 Co 11.3); emoções (Ap 12.17) e também vontade (2 Tm 2.26). Em Mt 25.41 fica claro ainda que ele é moralmente penalizável por seus atos, o que jamais ocorreria se ele fosse apenas uma metáfora ou um símbolo da maldade humana, como advogam alguns. E mais: Satanás é descrito por pronomes pessoais e é fortemente adjetivado no relato bíblico.
Tendo dito isso, vamos ao que interessa: O grande equívoco que nós, cristãos, cometemos, é achar que Deus e o Diabo estão numa batalha espiritual em pé de igualdade. Que a força que Deus tem cá o Diabo tem lá e que as chances de vitória em qualquer batalha espiritual são de 50% a 50%. É essa imagem da queda de braço aí ao lado, onde o Supremo Criador do Universo se vê numa disputa de igual pra igual, em que tudo pode acontecer, em que há isonomia de forças. Nada mais longe da verdade.
DEMÔNIOS APENAS OBEDECEM E IMPLORAM A DEUS
Para começar: Deus é o criador do ser que se tornou Satanás. Ou seja: do mesmo modo que eu e você, como criaturas, dependemos do Senhor para tudo, precisamos de sua autorização para realizar qualquer intento, o líder dos demônios tem de enfrentar a mesma burocracia. Sim, Satanás é obrigado em tudo a dizer a Jeová: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus”. Ele não tem escolha. Pois o Diabo não pode mover uma palha sobre a terra ou nas regiões celestiais sem a autorização expressa de Deus. É como um cachorrinho, esperando que seu dono afrouxe a coleira e ele, assim, consiga avançar contra um dos eleitos do Senhor.
Isso fica claríssimo no livro de Jó. Para tomar qualquer iniciativa Satanás precisa que Deus conceda-lhe o direito. Veja que em Jó 1.12 o Senhor diz a Satanás: “Pois bem, tudo o que ele possui está nas suas mãos; apenas não toque nele”. Ele usa o verbo no imperativo, isto é, trata-se de uma ordem, algo que vem de cima para baixo: “não toque”. Em nenhum momento há uma barganha: há uma concessão.
Depois, na tentação de Jesus no deserto, as palavras de Cristo em Mt 4.10a são absolutamente reveladoras: “Jesus lhe disse: Retire-se, Satanás!”. Perceba o que está acontecendo aqui. Jesus de Nazaré, o Deus encarnado, vira-se para aquele que tantos de nós temem e simplesmente dá-lhe uma ordem. Se Satanás vivesse em pé de igualdade na batalha espiritual, se ele lutasse de igual para igual com Deus, no mínimo ele responderia um “qualé, Jesus, vai encarar? Tá se achando, é?”. Mas não. Sabe o que o Diabo faz quando Jesus diz “retire-se”? Vamos para o versículo seguinte: “Então o Diabo o deixou”. Uau. Que moral. Não houve luta, não houve batalha, não houve barulho. Jesus disse e o Diabo simplesmente e subordinadamente obedeceu. Prova de que o nível de autoridade do Mestre é infinitamente, extraordinariamente, magnificamente, inquestionavelmente superior ao do adversário. Que é adversário nosso, não dEle, como já veremos.
Há ainda outra passagem fantástica que revela essa realidade. Marcos 5 nos conta que ao chegar a Gadara Jesus se depara com um endemoninhado. A história se repete. Quando aquela legião de demônios se vê diante do Rei dos Reis o que ela faz? Guerreia? Peleja? Luta? Enfrenta? Encara? Sai gritando “vamos lá, essa é a chance de derrotar Jesus!”. Nada disso. Ouça bem: “E implorava a Jesus, com insistência, que não os mandasse sair daquela região. Uma grande manada de porcos estava pastando numa colina próxima. Os demônios imploraram a Jesus: ‘Manda-nos para os porcos, para que entremos neles’.” (Mc 5.10-12). O demônios imploraram. Segundo o dicionário, isso significa que elessuplicaram, pediram encarecidamente e humildemente. Isso parece atitude de quem entra numa batalha de igual para igual? E assim é em todas as manifestações demoníacas que a Biblia relata: manda quem pode, obedece quem tem juízo. Ou melhor: quem já é réu de juízo.
SATANÁS NÃO É INIMIGO DE DEUS, MAS DOS HOMENS
Deus é onipotente, isto é, pode tudo. O Diabo é teopotente (com o perdão do neologismo), isto é, só pode o que Deus lhe permite poder. Então, a imagem medieval de Deus guerreando com o Diabo em condições de igualdade é tão esdrúxula como imaginar que um rinoceronte e uma formiga são capazes de competir em igualdade de força, poder e domínio. Apocalipse fala da batalha final de Armagedom. Mas imaginar que essa batalha é como um Fla X Flu, em que tudo pode acontecer, em que há chances de qualquer um ganhar, é uma ideia extremamente infantil. Toda e qualquer luta entre Deus e o Diabo é como um jogo entre a seleção brasileira titular de futebol e o timinho mirim sub-10 do Cáceres Matogrossense (que para quem não sabe é considerado o pior time do Brasil). Chega a ser risível imaginar uma derrota da seleção.
Deus sempre ganha. Sempre. Sempre. Simplesmente porque a grandeza, o poder e a majestade do Ser infinito, eterno, onipotente, inefável, magnífico que é o Senhor do Universo é absolutamente, impensavelmente, descomunalmente superior a toda e qualquer capacidade que esse mísero ser criado, chamado Satanás, possa ter.
Satanás não é inimigo direto de Deus: é uma pedra incômoda no sapato. Uma farpa no dedo. Satanás é sim inimigo dos homens, adversário nosso, pois ele tem a capacidade de nos sugerir que pequemos. Nem nos obrigar ele pode (salvo em caso de possessão). Veja o que ele fez com Adão e Eva: não enfiou o fruto proibido goela abaixo deles, apenas sugeriu, deu ideias. Satanas é um grande sedutor. Nós fazemos e cedemos se quisermos. Repare que o anjo de Apocalipse 22.9 diz a João: “Sou teu conservo”. Analogamente, os anjos caídos estão no mesmo nível hierárquico: co. Ou seja, “correspondente”, “correlato”. Eles estão em pé de igualdade enquanto inimigos dos seres humanos, jamais de Deus. Assim, devemos temer somente e tão somente aquele que pode lançar nossa alma no inferno (Mt 10.28), ou seja: Deus. Acredite: o Diabo não tem nenhuma autoridade para te condenar ao inferno. Isso é entre você e o Todo-Poderoso.
IGREJAS DIABOCÊNTRICAS
Pois bem, uma vez que pomos o Diabo no lugar que lhe é devido, começamos a perceber que ele vem sendo tratado pela Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo de maneira completamente equivocada: com honras e glórias.
“Ahn? Como assim, Zágari, tá maluco?”
Não mesmo. Repare que temos dado tanto destaque ao Diabo em nossas vidas que muitas vezes falamos mais dele do que de Deus em nossas orações e em nossos cultos. É um tal de repreender pra cá, expulsar pra lá, manietar, acorrentar, aprisionar… passamos tanto tempo usando os minutos que deveríamos estar dedicando ao Criador dos Céus e da Terra mencionando o Diabo que acabamos tornando nossos momentos na igreja diabocêntricos. E você consegue perceber o que há de mais grave nisso? Repare que quando pegamos o espaço que deveria ser totalmente devotado a Deus (como nossos cultos, nossos devocionais, nossas orações etc) e o usamos para dar espaço ao Diabo estamos fazendo exatamente o que ele queria e que resultou em sua queda: o pomos no lugar de Deus. Ou seja: quando fazemos de Satanás o centro de nossas atenções ele exulta, pois é exatamente o que queria desde o início: usurpar o lugar do Senhor. Nem que seja nas nossas atenções e em nossos pensamentos.
Cultos são momentos que, como diz o nome, servem para cultuar a Deus. Orações servem para relacionarmo-nos com Deus. Se O removemos desses momentos e pomos o Diabo no Seu lugar, pronto: sem percebermos entronizamos Satanás em nossas atividades, deixando o Senhor em segundo plano. Ah, e isso é tudo o que Maligno sempre quis! Veja: “Você, que dizia no seu coração: ‘Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembléia, no ponto mais elevado do monte santo. Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo’.” (Is 14.13,14).
As nossas orações, então, em vez de representarem momentos de íntimo contato com o Abba, de aproximação com o nosso amado, com aquele que é maravilhoso, em vez de serem oportunidades de nos derramarmos ao Pai nosso que está no Céu, cujo nome é santificado e cujo Reino esperamos ansiosamente… vira um bate-boca com o Diabo e com os demônios. Que desperdício! E isso porque temos a ilusão de que temos de ficar guerreando eternamente contra esse ser que é tão inferior ao nosso amigo Jesus Cristo. Quando na verdade onde a luz brilha as trevas se dissipam.
BATALHA ESPIRITUAL SE GANHA ACENDENDO A LUZ
Quer fazer batalha espiritual? Acenda a luz de Cristo na tua existência. Traga Jesus para o centro de tudo. E ali ele iluminará todos os cantos de sua vida, eliminando todo e qualquer vestígio de trevas. Pronto, a batalha estará vencida. Simples assim. Sem mágicas, sem estratégias, sem abracadabra. Ponha Jesus no centro da tua vida e Ele iluminará teu corpo, alma e espírito. E, com isso, não sobrará espaço absolutamente nenhum para o Diabo agir.
Fico impressionado com grupos que criam “ministérios” onde ensinam sobre mapeamento espiritual, estratégias de guerra e um monte de outras coisas ligadas ao Diabo. Eu mesmo na minha infância de fé participei de alguns, fui a cursos e seminários. Passamos manhãs inteiras discutindo e aprendendo sobre demônios, principados, hierarquias e tantas outras invenções humanas que a Bíblia ignora totalmente. Joguei no lixo manhãs inteiras glorificando o Diabo, tornando-o o centro das atenções, quando poderia estar me devotando ao Cristo que veio à terra para desfazer as obras do maligno (1 Jo 3.8) e que o venceu na Cruz. Aprendi tantas coisas inúteis nesses seminários de batalha espiritual que uma simples leitura bíblica me teria ensinado com muito mais clareza lições infinitamente mais preciosas e eficazes.
Quer saber qual é a forma bíblica de Jesus de lidar com Satanás e os demônios? Pois bem, repare antes de qualquer coisa que é a forma como  alguém muito superior trataria alguém infinitamente inferior. Como um leão trataria um rato. Mateus 8.16 diz a respeito de Jesus: “Ao anoitecer foram trazidos a ele muitos endemoninhados, e ele expulsou os espíritos com uma palavra”. Repare, uma única palavra!
Jesus não se rebaixava a ficar conversando com demônios. Com uma única palavra os mandava embora. E isso era corriqueiro. Em Marcos 1, Jesus está numa sinagoga quando “justo naquele momento, na sinagoga, um homem possesso de um espírito imundo gritou: O que queres conosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos destruir? Sei quem tu és: o Santo de Deus”. Repare que o demônio que possuia aquele homem puxou o maior papo com Jesus. Mas sabe o que o Mestre fez? Não deu a menor trela. Tudo o que ele falou, segundo o versiculo 25, foi: “Cale-se e saia dele!”. Que coisa extraordinária! Repare bem: Jesus não permitiu que o demônio abrisse a boca! Mandou-o se calar. E sair. Só. Sem conversa, sem dar importância nem oportunidade de ele falar ou mesmo “ensinar” doutrinas de demônios. O resultado? O texto diz: “O espírito imundo sacudiu o homem violentamente e saiu dele gritando”. “Cale-se e saia dele”…e ele saiu. Uau.
Esse deve ser o nosso procedimento: cala e sai. Só. E sempre. Luz acesa, trevas dissipadas.
É como se Jesus quisesse dizer: “Tá, já tirei o cabelo da sopa, vamos nos banquetear agora?”. Mas tem gente que prefere ficar aos berros: “Tem um cabelo na minha sopa! Tem um cabelo na minha sopa! Tem um cabelo na minha sopa!”. E assim perde o principal. Que é Deus. A Cruz. A vida eterna. A Igreja. A comunhão dos santos. O amor.
VALORIZAR O DIABO EM NOSSAS CELEBRAÇÕES É DESTRONAR DEUS
A Bíblia é sobre Cristo. O Evangelho é sobre Cristo. Nossa vida cristã é sobre Cristo. Batalha espiritual é um assunto secundário. Se houver demônios os expulsamos e acabou. Se você reparar que está gastando muito do seu tempo lendo sobre eles, falando sobre eles e se preocupando com as sujeiras ligadas a eles é sinal que suas prioridades na vida de fé precisam ser reavaliadas. Cristianismo é sobre viver com Cristo e amar o próximo e não sobre ficar gastando horas e horas com demônios.

Deus não está no mesmo nível que o Diabo. Deus está no apartamento de cobertura e o Diabo, no capacho que dá entrada ao saguão do primeiro piso – pela porta dos fundos  Temos que tirar da cabeça essa ideia infantil de que eles estão no mesmo nível. Deus é criador. O  Diabo é criatura. Deus pode tudo. O Diabo só pode o que lhe é permitido. Deus manda. O Diabo obedece. Deus é vitorioso. O Diabo já perdeu. Deus viverá a eternidade em seu Reino de glória, honra e majestade. O Diabo viverá a eternidade na morte eterna do lago de fogo e enxofre. Deus ama seus filhos. O Diabo perdeu o amor de Deus. Deus merece toda a nossa atenção. O Diabo não merece nem mesmo um post num blog desconhecido como o meu. Logo, como já gastei tempo demais escrevendo sobre essa criatura incômoda que conseguiu fazer com que eu usasse um post do meu blog pra falar dele, nada melhor do que encerrar um artigo sobre o Diabo falando sobre Aquele que de fato merece que falemos dEle: Glória a Deus nas maiores alturas! Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas! Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda está cheia da sua glória. Santo, santo, santo é o Senhor, o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir. (Lc 2.14a; Mt 21.9; Is 6.3; Ap 4.8)  Mauricio Zágari