ALIMENTANDO GIGANTES OU FORTALECENDO PIGMEUS.
A vanglória e a autocomiseração são farinha do mesmo saco. As duas fazem parte de um único elenco e ambas chamam a atenção da platéia tonta. A primeira é o orgulho no pódio, enquanto a segunda é o orgulho no pó, com o rosto sujo, cheirando a poeira.
A vanglória gosta de exibir o seu sucesso, requerendo a boa imagem que nutre nos bastidores. A sua preferência é sempre falar das conquistas e demonstrar o valor majestoso do seu portfólio no palco. Vive à caça dos holofotes para a sua visibilidade pública.
Como são ricos os detalhes desse discurso vaidoso, que tenta esbanjar seus dotes, esnobando até mesmo os traços da humildade como se fossem integrantes de sua personalidade altiva. Ouvir atentamente esse tipo de conversa vangloriosa com quietude e mansidão é um exercício de profundo quebrantamento espiritual.
Por outro lado, na contramão da vanglória, embora ateado pelo mesmo fogo da arrogância, corre, com aparente discrição ou, tão somente, com a fisionomia anêmica, por falta de sangue nas veias, o autocompadecimento insuspeito. É o agiotismo do coitadinho.
Aqui é que mora um grande perigo. Aquilo que parece ser humildade, não passa de orgulho mascarado. A cara lavada, sem qualquer traço de maquiagem, com trapos e fiapos pendurados, pode ser o fio mais sutil da malha presunçosa.
Lutero, o reformador, disse, certa feita: "tenho mais medo do meu coração justo, do que do Papa e dos seus Cardeais". Eu também: tanto o meu gigante guloso e obeso que tento alimentar com banquetes espetaculares, quanto o meu pigmeu raquítico, aquele me sinto constrangido a fortalecer, chamando a atenção, são ferozes demais. Neste caso, eu sempre enfrento uma guerra mundial com inimigos poderosíssimos em meu íntimo.
A vanglória e a autocomiseração são aparentemente opostas, no entanto, formam um par idêntico de irmãs gêmeas e siamesas geradas pelo velho orgulho de sempre. Ser ilustre e não ser vaidoso é tão difícil como ser humilde sem ficar amarrotado pelos cantos.
A humildade é uma das mais raras de todas as virtudes do ser humano, porquanto, todo aquele que se reconhece humilde já se envolveu numa escandalosa empáfia. Como é complicado demonstrar uma humildade sem alarde!
Vou findar o texto com um enigma proverbial: Melhor é ser humilde de espírito com os humildes do que repartir o despojo com os soberbos. Provérbios 16:19. Afinal das contas, cadê os humildes para que possa admitir minha arrogância e festejar com eles a humildade do Cordeiro como o dom da graça em nosso favor?
Se alguém pretende encontrá-los por aí, então se acocore com uma toalha e uma bacia nas mãos e ainda um bom microscópio; talvez haja algum pé que aceite ser lavado sem sapato alto ou timidez de inchado. Quem se propõe a tal façanha? Ai de mim! Não há alternativa para mim; só se for por Cristo em mim. GLÊNIO FONSECA PARANAGUÁ
Nenhum comentário:
Postar um comentário