Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus. Gálatas 6:17
A Cruz não é somente um fato, não é apenas um caminho, a Cruz é um estilo de vida. Nós morremos com Cristo. Houve uma unidade experimental com Cristo em Sua morte e ressurreição.
As duas grandes verdades reveladas na Cruz de Cristo: a primeira é que ela é um fato histórico. Isto é, a verdade quanto à morte no sentido Judicial. A segunda grande verdade é que, o fato histórico, tem que se tornar uma verdade “em nós”.
Quando realmente nascemos de novo a Cruz se tornará o nosso estilo de vida. Podemos assim chamá-lo de espírito da Cruz. É mais do que simplesmente um “entendimento” é um modo de vida.
O espírito da Cruz torna-se uma vida, um princípio de vida para todas as nossas ações e reações que nos marcam como um povo separado por Deus. Este é o espírito da Cruz.
O nosso Senhor Jesus é chamado “Cordeiro morto desde a fundação do mundo” (Ap 13:8). Quando esteve aqui foi chamado Cordeiro de Deus e, como tal, foi sacrificado por nós.
O fato de Jesus ter sido chamado o Cordeiro morto desde a fundação do mundo, significa que o principio do Espírito da Cruz já operava Nele. Por isso, aquele que segue o Cordeiro também leva essa marca.
O apóstolo Paulo trazia em seu corpo as marcas de Jesus. Talvez tenhamos um vasto conhecimento sobre a Cruz. Talvez estejamos cheios de conceitos acerca da vida cristã. Talvez nos achemos aptos para falar da Cruz. Mas, a vida cristã não é definida pelo vasto conhecimento que temos dela.
A vida cristã caracteriza o povo da Cruz. Isto é, pessoas que carregam as marcas ou possuem o espírito da Cruz. Ou seja, o Espírito do Cordeiro conosco no dia-a-dia, não importando o quanto somos ofendidos.
Na prática o que significa ter o Espírito de Cordeiro? Podemos recorrer às reações do nosso Senhor Jesus no período em que Ele permaneceu naquela Cruz. Através delas podemos entender algo a respeito do que é o espírito da Cruz.
Ele estava sendo pregado e levantado naquela Cruz para morrer. A primeira reação foi: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. Lucas:23:34. Considere o momento que o Senhor Jesus estava enfrentando.
Pense naquelas circunstâncias. Os homens ridicularizaram, zombaram, desafiaram e riram Dele. Jesus tinha todo o direito de pedir ao Pai vingança, mas não o fez. Não havia rancor nem amargura no coração Dele. O que havia em seu coração era amor.
Entre o povo de Deus, em inúmeras oportunidades, nos sentimos ofendidos por alguém. Quando isso ocorre, o que fazemos? Reagimos com um espírito de clamor por vingança? Ou, pedimos ao Pai para perdoar?
Um espírito não perdoador é movido por ressentimentos e desejos de vingança. Por isso, reage como que administrando veneno em doses homeopáticas ao seu desafeto, tendo como objetivo exterminar a sua vítima, mediante cruel e prolongado sofrimento.
Pedro era uma pessoa bem impulsiva, aberta, direta e até rude. Um dia ele se aproximou de Jesus e fez a seguinte pergunta: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Mateus 18:21-22.
Parece-nos que na visão de Pedro perdoar sete vezes já era o bastante. Para ele perdoar sete vezes já era o suficiente, porque mais de sete vezes não parecia muito lógico para Pedro.
O Senhor disse: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. O que o nosso Senhor quer nos dizer é que, não devemos apenas contar e multiplicar, mas que devemos apenas esquecer. Chegamos a uma conta tão grande que não conseguimos mais quantificá-la. Em outras palavras, perdoar, perdoar e perdoar.
Logo após esta conversa com Pedro, o Senhor usou a seguinte parábola: Um rei tinha servos e um deles devia dez mil talentos. Mateus 18:24. Como ele contraiu essa dívida não se sabe, mas o fato é que ele não tinha como pagá-la. Como tipo, sabemos que a nossa dívida foi contraída na queda de Adão.
O servo implorou por misericórdia e o rei o perdoou. Mas, ao deixar a presença do rei, o servo perdoado encontrou seu companheiro que lhe devia um pouco, uma quantia insignificante na proporção da que lhe foi perdoada - apenas cem denários, isto é, o salário de um dia de trabalho.
E disse ao companheiro: “Pague ou o entregarei à prisão”. Por este não ter condições de pagar, o servo perdoado mandou o seu companheiro para a prisão. O rei ouviu o que tinha acontecido e disse:Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste: não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? Mateus 18:32-33.
Este servo que não perdoou a dívida do seu conservo foi entregue aos torturadores ou acusadores. Nada é mais torturante do que uma consciência cheia de culpa.
A dívida que contraímos em Adão é impagável, não temos condições de saldá-la. Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele a Deus o seu resgate (Pois a redenção da alma deles é caríssima, e cessará a tentativa para sempre). Salmos 49:7-8.
O fato é que, mesmo que vendêssemos a nós mesmos, nossa família e todos os nossos bens, não seríamos capazes de pagar a nossa dívida; Ela excede a todo e qualquer volume de recursos que possamos ter. Por isso, o nosso Senhor Jesus, em Sua grande misericórdia, pede ao Pai que nos perdoe. Esse é o espírito da Cruz.
Fomos perdoados de uma dívida impagável. Não devemos perdoar aqueles que nos ofendem? Esse é o espírito da Cruz. Essa é a marca de um povo separado por Deus; que vive na contramão dos conceitos humanos.
Um espírito não perdoador faz de nós pessoas amargas. Adoecemos e nos tornamos agentes adoecedores. Este talvez seja o motivo de tantas contendas e problemas no meio do povo de Deus. Esta é uma lição que precisamos aprender logo cedo: termos o espírito da Cruz - um espírito perdoador.
Jesus foi crucificado entre dois ladrões. No começo, ambos zombaram e ridicularizaram. Mas, algo aconteceu com um deles. De alguma maneira o Espírito do Senhor abriu-lhe o entendimento; ele olhou para o Senhor e disse: Lembra-te de mim quando vieres no teu reino. Lucas 23:42,
Neste pedido vemos a suprema grandeza de Graça de Deus! Agora, um malfeitor se dirige a Ele pedindo-lhe salvação, e o Senhor Jesus lhe disse: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso. Lucas 23:43.
Como podemos explicar este fato: O malfeitor agonizante, contemplando um homem em sofrimento, sangrando e crucificado por seu Deus e, ao mesmo tempo, tendo a antevisão do Reino? Não é um fenômeno que possa ser entendido e nem explicado, senão pela intervenção divina. Sua fé foi ummilagre da Graça!
Esse ladrão nada merecia. A sociedade já o tinha lançado fora; aos olhos humanos era desprezível, e ele mesmo sabiadisto. Entretanto, Jesus manifestou a Sua Graça àquele ladrão e disse: hoje estarás comigo no paraíso. Aqui está o significado do espírito da Cruz! É o espírito da Graça. Somos um povo salvo unicamente pela Graça.
Graça é algo dado a nós sem nenhum mérito de nossa parte. Nada nos é dado por merecimento ou porque somos dignos. A Graça não é algo que conquistamos; a Graça depende de quem está dando. Ela é uma ação voluntária, unilateral e exclusiva do amor de Deus.
Jesus, naquela Cruz estendeu a sua Graça ao ladrão, que nada podia fazer por si mesmo para escapar daquela situação; não somente pelo fato de estar pendurado naquela Cruz, mas porque a sua alma estava perdida.
A Graça de Deus para conosco é incondicional; não é uma graça retributiva, mas sim, atributiva. Não é uma Graça que busca algo de bom no homem para favorecê-lo. A Graça brota de Deus por causa da Sua natureza.
A Graça de Deus é uma ação para conosco, não uma reação a nós. A Graça é atributiva porque não depende de quem a recebe. Não depende do que somos, mas do que Deus é.
Graça é o amor incondicional de Deus manifestado em Cristo, concedida livremente ao pecador que nada merece. Mas, em Cristo todos recebemos de sua plenitude: Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça. João 1:17.
A definição de Graça de acordo com o original significa “há algo de bonito e agradável” naquela pessoa. A Graça, em toda a sua expressão, não significa apenas que há algo bonito e agradável naquela pessoa, mas que a beleza seja manifestada. Este viver é caracterizado pelo espírito da Cruz.
Somos os vasos que exalam o bom perfume: Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem. 2 Coríntios 2:14-15.
O espírito da Cruz significa que, quando somos alcançados pela Graça, por ela nos tornamos pessoas graciosas. Isto significa que esta Graça, pela qual fomos alcançados, exalará através de nós o seu perfume: Enquanto o rei está assentado à sua mesa, o meu nardo exala o seu perfume. Cantares1:12.
Quando lemos o sermão do monte, vemos ali as características, ou o modo de vida dos filhos do reino dos céus. Eles são o povo da Cruz. Eles são humildes de espírito porque a Cruz de Cristo operou neles. Eles são os que choram, eles possuem um coração contrito diante de Deus.
Eles são mansos, eles estão sedentos, eles são misericordiosos, eles são puros de coração, eles são pacificadores. E, por amor de Cristo, estão sendo perseguidos, contudo se alegram. Essas são as pessoas que possuem o espírito da Cruz.
Eles estão exalando o bom perfume de Cristo. Podemos nos perguntar: Temos as marcas de nosso Senhor Jesus em nosso corpo? Que o Senhor tenha misericórdia de cada um de nós. Amém. Humberto Xavier Rodrigues - www.piblondrina.com.br