Por estes dias, enquanto conversava com um amigo muito querido no carro, Pr. Ariovaldo Ramos, uma frase dele me chamou a atenção. Disse ele em tom de desabafo:
-Eu estou cansado da maldade evangélica.
Comecei a pensar nesta fala do Ari e realmente comecei a discernir o quanto isto é cansativo.
No mundo estamos entregues a uma guerra o tempo todo, as pessoas se veem como um competidor em potencial. Sentimo-nos ameaçados por aqueles que mesmo nos tratando cordialmente desejam nosso lugar na empresa, nossa vaga na faculdade, nosso lugar no concurso publico, etc. O mundo vive um estado de competitividade absurdo: algo que até tem causado doenças emocionais terríveis em muitas pessoas em virtude desta pressão. Porém na esfera secular, governada pelo espírito do anticristo, sabemos que é assim que funciona.
O mundo é um imenso e árido Saara, como projeção da aridez da alma humana sem Deus. Esta aridez não é necessariamente a falta de recursos e água do ponto de vista externo, antes, aponta para o interior humano que depois da queda tornou-se em um estado de sequidão tal que, mesmo na possibilidade de sorver o mundo todo, jamais conseguiria aplacar a sua sede ou encontrar contentamento. Isto é o que disse o teólogo e filosofo católico nascido no final do século XIX, o britânico G. K. Chesterton, em seu livro O Homem Eterno:
Se nada neste mundo consegue trazer contentamento ao homem, a única conclusão lógica que chego é que o homem não é deste mundo.
A aridez do homem sem Deus, onde nada é capaz de satisfazê-lo, é que transforma um mundo lindo, rico e exuberante como o nosso em um Saara. Quando tentamos encontrar a razão, a força que é capaz de transformar o céu num inferno, por incrível que pareça, somos transportados para regiões celestes das pedras afogueadas, nada mais, nada menos que o Monte Santo de Deus. Pois é lá que encontramos uma criatura tão exuberante que foi chamada de sinete da perfeição ou, como diz uma tradução católica, “o selo da semelhança de Deus”. De tanto se contemplar e se admirar pôde perceber que era incomparável a menos que olhasse para cima, para o trono de Deus e, por esta razão, acabou por desejá-lo.
Neste momento a maldade se instala como uma possibilidade. A comparação entre o que sou e aquilo que é mais elevado do que eu deixa-me apenas duas possibilidades no caso de ser Deus, que se eleva sobre mim e sobre tudo. Em primeiro lugar adorá-lo, por ser incomparável: o totalmente outro como gostava de enfatizar Karl Barth. Em segundo lugar me rebelar contra Ele na tentativa de usurpar seu trono. A isto damos o nome de inveja.
A inveja é isto. Seu poder corrosivo e destrutivo é incomparável, a força maligna capaz de transformar anjos em demônios e seres humanos em diabos. Não importa quanta glória Deus lhe conceda, se a inveja lhe pegar ela transformará toda essa glória em nada. A única coisa que importara é o impossível de ser o que não se é. Lançando suas vitimas num lamaçal de imitação barata, de mentira e de maldade, pois não a limites para o invejoso, ao passo em que caminha, sua associação com a maldade se transforma em identificação com o mau, de tal maneira que o ser vira o diabo e nem percebe. Alexandre De Oliveira Chaves.
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