sábado, 27 de outubro de 2012

A SOLITUDE JUBILOSA


Tenho escrito alguma coisa sobre o silêncio, embora não tenha aprendido quase nada a
respeito da arte – ou ciência – e seus exercícios que conduziriam a alma ao estado de
calma interior. Não sou bom aluno nessa matéria; mas, quem é? O ser humano é deveras
agitadíssimo, e esta é a dificuldade genérica que compromete as premissas para sê-lo.
Ao ser silencioso no recôndito da alma se abre uma guerra universal. É a grande batalha
do mundo interno contra o mundo inteiro, do lado de fora. Nada pode ser mais estrepitoso
do que o barulho das baterias aéreas dos pensamentos atirando contra as tropas do
cosmo que se propuseram a atacar com os seus zumbidos.
O vulcão interno é mais violento do que o estouro dos foguetes que anunciam a chegada
da droga. Meu mundo privado é bem mais agitado do que as calçadas aglomeradas por
multidões de transeuntes suando ao som de suas vozes que não só falam, mas gemem,
suspiram, gritam e até riem ao longo de duras e também barulhentas pisadas.
O latido do cachorro da vizinha e a tosse do velho resfriado perturbam muito na hora da
concentração quando me ajoelho na igreja ou para orar em secreto no quarto; todavia, os
compromissos e responsabilidades pessoais são mais gritantes do que todos os sons
estridentes somados do universo em explosão.
Sim, estou matriculado na Universidade da Quietude, mas não cheguei ao jardim da
infância. Há pouca evolução, apesar das tentativas de sossegar a alma. Saibam, contudo,
que não pretendo desistir. Alguns mestres nisto têm dito que é assim mesmo. O silêncio
do útero é complicadíssimo. Fomos treinados nas oficinas da atmosfera ecoando os seus
sons e não é fácil ficar quieto ouvindo a voz silenciosa do Espírito em nosso espírito.
Quero, porém, deixar uma pequena lição que me tem ajudado – a de desfrutar do gozo
em ser aceito pelo amor incondicional de Abba. Eu preciso desfrutar dessa alegria de ser
amado de verdade. Juliana de Norwich, inglesa do século XV, disse com a sabedoria de
cima: "a maior honra que podemos dar a Deus é viver alegremente pelo conhecimento do
seu amor... O que Deus mais quer é ver você sorrir por saber o quanto ele o ama". Será
difícil gozar esse presente?
Em seguida, sente-se num lugar com menos interferência possível; apanhe um bloco e
anote as coisas urgentes que aparecem, pois há muito que fazer, surgindo de repente.
Não se esqueça: depois da solitude faça o que anotou. A mente é muito esperta, ela
cobra na próxima vez. Agora fique o mais silente possível usufruindo do prazer de ser
amado, sem qualquer contrapartida. Experimente... Vou continuar frequentando o lugar
secreto e desfrutando silenciosamente desse júbilo como um Mendigo da graça. O velho
Glênio Fonseca Paranaguá.

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