Às vezes é bom baixar a poeira para que possamos enxergar com clareza aquilo que de alguma maneira se nos apresenta. Digo isto com referência à visita do Papa. Sua visita causou um alvoroço em nosso país, mobilizando os meios de comunicação, classe artística, classe política e o povo. Seu discurso, carisma inegável e algumas atitudes produziram quase que uma unanimidade a respeito de sua personalidade, e para mim as unanimidades são perigosas.
Esta não é uma fala para quem não se interessa por buscar sentidos e motivações mais profundas. Se você é daqueles que estão condicionados pelo sistema que diz que: pensar e questionar dói, talvez este texto não seja para você. Se sua cabeça é daquelas habituadas ao relativismo pós-moderno ou se a única coisa que você precisa é de um ídolo a mais, como tantos, que tem a capacidade de renovar a sua fé no homem, ao passo que alimenta a sua desconfiança no caráter de Deus, definitivamente é melhor que não continue a leitura.
Quando olhamos para a vidade Jesus narrada nos evangelhos, nos deparamos com resultados totalmente distintos em sua vinda, quando comparados com os resultados obtidos pelo Papa em sua passagem por terras brasileiras. Algo que me parece um tanto quanto estranho. Haja vista que ao menos em tese o Papa seria o representante mais eminente de Jesus e de Sua mensagem.
O que está diferente? Deus ou o Papa? Este questionamento me vem à mente, pois ficoimaginando uma visita de Jesus Cristo nestes dias em solo brasileiro. Ele chegaria sem muito alarde e sem nada preparado, levado pelo Espirito que sopra como vento onde quer. Sem agenda oficial, sem comitiva de poderosos políticos desacreditados para o bajular, sem esquema de segurança, sabendo que sua vida esta guardada nas mãos daquele que disse:
“tu és meu filho amado”.
Começaria sua visita talvez, lá pelo sertão do Piauí. A cúpula religiosa não ficaria nem sabendo a principio. Começaria apenas a ouvir o burburinho do povo dizendo:“Ele esta no meio de nós”. Mas como estão cansados de ouvir isto todos os domingos, não dariam muito crédito. Enquanto isto, Jesus sem pressa iria visitando as periferias e andado por todas as partes, cheio do Espirito Santo e de poder, sairia fazendo o bem e curando todos os oprimidos do diabo.
Aos poucos sua visita iria sendo percebida, o povo começaria a comentar com mais ênfase. Para que não ficasse chato para os representantes oficiais, Jesus enviaria de vez em quando uma testemunha de sua presença aos sacerdotes, bispos e cardeais. Ninguém muito especial, apenas um ex-ceguinho, umex-leproso ou coisa do gênero. Já imaginou o escândalo, Jesus Cristo o filho de Deus nos visitando e a cúpula da igreja sem saber de nada, pegaria mal.
Mesmo em meio ao descredito, mas por insistência dos fatos a liderança religiosa resolveria criar uma comissão investigadora para acompanhar os acontecimentos mais de perto. E em tempos de politicamente correto e de fronteiras gelatinosas a bancada evangélica seria comunicada com uma notificação para enviarem representantes para esta comissão.
Depois de uma guerra de egos e poder, após ter dado entrada no Albert Einstein várias vítimas de uma briga de cadeiradas, seriam escolhidos quatro representantes e um que não representa ninguém. Entre eles, Bispo Dedo Torto, Apóstolo Chapelão Chorão, Pastor Nervosinho Fala Muito, Evangelista Mansinho Engomadinho e um outrocujo o nome não foi mencionado pois, como já foi dito, não representa ninguém.
A partir deste momento a visita de Jesus que deveria ser facilitada ao menos em tese, se tornaria um inferno. Jesus não poderia nem participar de um churrasquinho na casa de gente de verdade, do tipo, pecador carente da graça de Deus, sem que sua identidade fosse posta sob suspeita. Tomar um vinhozinho com algumas pessoas passa a ser um martírio, pois logo a bancada evangélica diria: “Tem demônio!”
Isto pra não falar de Suas amizades, suspeitíssimas! Jesus andaria com prostitutas, leprosos, ricos e pobres. No caso dos ricos tudo bem, porem com relação aos pobres, causaria certo desconforto e irritação nos expoentes da teologia da prosperidade. Andaria com pecadores, com gente de bem com bons olhos, gente que nem gente se achava. Enfim, Jesus com estas práticas colocaria em risco o resultado positivo do relatório desta comissão.
A coisa iria piorar muito,quando ele resolvesse visitar uma destas sinagogas evangélicas. Diante do comercio feito com o povo, temo pelo pior. Jesus ficaria tão irritado com os absurdos criados em nome de Deus para explorar o povo que iria às vias de fato. Tiraria o cinto de seu jeans e daria de fivela, quebraria os expositores com sal grosso, sabonete de arruda e lenço ungido, além de esparramar os envelopes com o produto da exploração do dia pelo chão e por pra correr 318 homens de deus.
Quando visse catedrais faraônicas, as desprezaria com o olhar de quem conhece a realidade que não se vê e diria:
- Destruam tudo, acabem com tudo isto e construirei o que de fato importa. Isto causaria revolta na liderança da igreja. Como assim? Destruir nossa torre de Babel, mas é ela que nos faz notórios, e quando estamos dentro dela nos sentimos no céu.
A partir deste momento o destino de Jesus Cristo no Brasil estaria selado. Jesus acabaria num julgamento no alto do morro, condenado à morte no micro-ondas para servir de exemplo. Esta seria a única solução para um sistema que chama de humildade qualquer prática que esteja abaixo da média dos megalomaníacos arrogantes. Sem saber que humildade é Deus virando gente, e quando o padrão é este, ninguém em sã consciência pode chamar de humildade alguém andando com o vidro aberto do carro cercado de seguranças, enquanto é idolatrado pelo povo.
A verdade é que, enquanto o Feliz Esteano, representando a si mesmo não representa ninguém, o Chico representa muita gente, só não representa quem deveria representar. Até porque só precisa de representante aquele que está ausente o que não é o caso de Jesus Cristo, pois como Ele mesmo disse:
“Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos tempos”.Mateus 28:20.
Desculpe, mas na terra onde o Senhor de tudo usou uma coroa de espinhos e foi crucificado, ninguém usando mitra, kipa, coroa ou chapelão, amado pelo sistema deste mundo, pode representá-lo. Pois como Ele mesmo disse: “O servo não é maior que o seu Senhor”, ou pelo menos não deveria ser. Nada pessoal Chico.
“Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros. Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia. Lembrai- vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.” João 15: 17 ao 20. Alexandre O. Chaves
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