terça-feira, 4 de setembro de 2012

SOLIDÃO, SOLITUDE E SOLIPSISMO

Não é boa a solidão; o isolamento dos outros é horrível. A Trindade já demonstrou isto na
criação, pois nos criou à Sua própria imagem e semelhança. Elohim, o Deus Trino, é um
ser coletivo; e Adão foi feito em estilo comunitário. Eva já estava nele. A humanidade foi
bem arquitetada sob o mesmo formato da Trindade, para viver em companheirismo. Não
houve a intenção de uma existência solitária, mas solidária, participativa, colegiada.
A solidão é uma ilha solo. Nenhuma pessoa minimamente saudável quer viver só. Somos
gregários e não podemos desenvolver a nossa personalidade no ermo. Precisamos de
acompanhantes para a nossa caminhada; entretanto, é indispensável que haja também
espaço entre os peregrinos. As cordas do violino tocam juntas, embora permaneçam
separadas. A comunhão é ótima, contudo não pode nos pressionar e nos comprimir.
É imprescindível a solitude. Aqui neste aparente solilóquio reside um vazio acompanhado.
Ficar sozinho para estar com Aquele que nos preenche cada brecha. Se não tivermos
tempo para o silêncio na presença da Trindade Santa, falaremos apenas bobagens e
teremos um discurso cansativo, exaurindo outros, enquanto caímos na categoria de tolos.
A solitude é um cinzel da cruz de Cristo em nosso ser. Ela esculpe a quietude no meio da
algazarra; entalha a solidariedade com a agenda abarrotada de compromissos; mostra
que o solipsismo, isto é, a solidão consigo mesmo; a vulgaridade de um ego obeso e
ensimesmado que si basta é paupérrima. Este palavrão é a doutrina pós moderna, em
que o ególatra dispensa as relações pessoais em face das trocas no mercado "vantajoso".
Solitude é querer ficar só para poder experimentar a mais excelente Companhia e, desde
modo, ganhar a dimensão para acompanhar os outros viajantes. Eu preciso diariamente
ficar sozinho; estar calado; tornar-me quieto; aprender a ouvir a voz silenciosa de Deus,
no íntimo, para, em seguida, poder ser um companheiro menos complicada, menos chato.
Um jornalista perguntou a Madre Teresa de Calcutá. "Quando você reza, o que diz a
Deus? Ela respondeu: eu não falo; escuto. O jornalista, então perguntou: e o que Deus diz
a você? Então, Madre Teresa considerou: Ele não fala. Ele escuta. Se você não pode
entender isso, eu não posso lhe explicar". O amor se encarnou no Verbo. Aqui a Palavra
muda mudou o tom da prosa e falou sem palavras o discurso da aceitação incondicional.
O amor tem uma linguagem que no silêncio se escuta o som inaudível, enquanto a voz
silente fala as palavras mais eloquentes da comunicação afetuosa. Saber falar e ouvir
sem sons é a arte superior da solitude que anula o vitimismo da solidão e demole o
solipsismo atroz deste mundo fechado no individualismo misantropo. Passe tempo com
seu Abba; daí você vai se deleitar com aqueles que Ele ama. Quero apenas lhe abraçar
neste amor furioso e terno, ao mesmo tempo. Beijos do velho mendigo de sempre. 
Glenio Fonseca Paranaguá

Nenhum comentário: