A última lição prática que Cristo Jesus deu aos seus apóstolos inchados, antes da cruz, foi a do lava-pés. Durante o seu ministério terreno, de três anos e meio, houve três crises de megalomania entre os seus discípulos. A questão recorrente discorria sempre sobre o saber quem era o maior, o mais notável, o pajé da aldeia ou o cacique da tribo. Sempre a mesma coisa. Que assunto indigesto.
A obesidade emocional é muito mais séria do que a gordura física. Há um perigo muito maior para a saúde como um todo, ao se perceber o intumescimento psicológico, isto é, o ensoberbecer-se sobre os outros, do que, em relação à adiposidade orgânica. É preferível um rei-momo rechonchudo, roliço e barrigudo do que o reinado de uma mente soberba, grossa de ambições e avantajada em seus desejos de grandeza.
Como o mendigo se aposentou de sua calçada para não fazer nada mais além de descansar, se matriculou na escola do aprendiz de lava-pés e, vai continuar historiando. (Só o presidente pode continuar voado).
O ser mendigo é descansar na esmola da graça plena, enquanto o ser lavador de pés é aprender a ralar com júbilo na missão da dependência filial, financiada pela misericórdia que se renova a cada alvorecer. No mundo da roda dentada, o ser humano em pé, empertigado, vale pelos seus méritos e por sua vanglória. Vive em busca de pódio.
Por outro lado, no mundo do pão partido e do vinho derramado, a pessoa só vale ajoelhada e de cócoras, orando ao Pai e lavando os pés dos indigentes, movida por amor incondicional, sem a necessidade de relatórios ou a exposição de suas causas pessoais.
Na escola, As Migalhas Que Caem Da Mesa, se aprende que: a grandeza está nos pés e não na cabeça. Os pés lavados são mais importantes do que os cabelos penteados sobre o topete da cabeça ensoberbecida. A humildade válida, no Reino de Deus, só valida o valor do capacho limpa-pés, nunca do capricho lustra-móveis, reivindicado apenas pelas mentes altivas ou enaltecidas que exigem reconhecimento.
O modelo da grandeza apresentado pelo Maioral dos maiorais é uma bacia com água limpa, uma toalha cingida pela cintura e a disposição de se encolher até aos pés dos pedantes, para limpar a poeira dos pés sujos. Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido. João 13:5.
O Senhor do Universo, o Criador do Mundo, o Verbo Onipotente em carne vivente, assumindo a postura do escravo mais baixo ou o inferior da Casa, o servente mais desprezível de todos, acocora-se aos pés da criatura, para estender a sua linha graduada, a escala de maior grandeza na administração da economia divina. Ser o maior no Reino da graça é torna-se um aluno do lava-pés, louvando de coração, pelo status semelhante ao posto do Deus agachado.
A pessoa mais elevada no Reino de Deus, segundo o Rei dos reis, o Senhor dos senhores. Segundo o Servo dos servos que não servem, nem mesmo para servir no serviço mais baixo da Casa, é aquela que se importa com aquilo que, diante dos homens orgulhosos e importantes, não tem a menor importância, ou seja, o lavar os pés da gentinha, que ele tanto ama.
Mestre e Senhor da humildade eterna, pedimos-te: ensina-nos, como aprendizes do lava-pés, a nos desvestirmos da túnica de nossa dignidade terrena. Precisamos ser desconstruídos em nossa importância pessoal, que tanto nos exalta. Rogamos também, que, enquanto estivermos sendo vestidos, no recinto da graça, com o avental da tua própria modéstia e revestidos do poder do Paracleto invisível, que possamos servir aos indigentes, neste mundo presunçoso, sem a preocupação com os holofotes acesos e as câmeras ligadas, com toda a diligência e elegância da tua nobreza celestial.
No teu nome santo. Amém.
Do aprendiz de lava-pés, Glênio Paranaguá.
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