O Onipotente de cócoras asseando os pés imundos dos discípulos insolentes é uma cena sem precedente na história deste mundo drogado por egolatria.
O pior é que a sua postura é o modelo do seu discipulado. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. João 13:14 . Até aqui, tudo bem, posso admitir o Criador agachado servindo a sua criatura. Ele se basta a si mesmo. O xis da questão é ver a cria sobrepujada, querendo ser o Autor da criação, se ajoelhando perante outro ente doente de ego, para lhe banhar os pés.
Se o assunto ficasse só com o Soberano era mais fácil para nós os soberbos, admitirmos este gesto de humilhação. Deus tem aseidade, isto é, ele não carece de nada, nem coisa alguma lhe diminui. Mesmo o Deus encolhido no corpo de uma criatura não sofre uma mudança de essência, tampouco deixa de ter a plenitude da Divindade. Ele se basta a si mesmo.
A complicação fica sempre conosco, pigmeus morais, ambicionando o trono eterno do Deus Altíssimo. O pecado nos tornou alpinistas juramentados. Somos uma raça anã, vivendo um pesadelo de gigantismo. Sofremos de esporulofobia, ou o medo dos micra que definem a célula imperceptível de uma vidinha medíocre. A invisibilidade social nos atrapalha demais.
O ostracismo nos incomoda nas entranhas. Uma biografia sem palco e sem holofote é insuportável para as brisas que sonham serem ventanias e os ventos que se veem como vendavais. Deus me livre da insignificância! Esta a enfermidade da alma mais difícil de ser curada.
A aula do lava-pés é uma desconstrução do velho paradigma. Cristo Jesus é uma pessoa encarnando duas naturezas simultaneamente. Cristo é a divina encolhida, enquanto Jesus é a humana sarada. O Deus-Homem não teme a humilhação, nem busca a exaltação. O alcance da Sua pessoa histórica é o modelo de nosso ensaio como filhos de Abba.
A bacia, a tolha e o contentamento de ficar agachado, lavando os pés emporcalhados dos semelhantes, arrogantes como eu e você, é o teste de qualidade que me vai dizer como saio na foto junto àqueles que são chamados filhos de Deus.
Não há alternativa. Os discípulos do Cordeiro são alunos do lava-pés. Esta matéria, porém não tem graduação e, se nós não nos humilharmos, seremos humilhados. Sendo assim, é melhor nos curvarmos antes que sejamos encurvado pelos sofrimentos que nos conduzirão ao patamar da humilhação.
Abba, querido, ficar de cócoras com a bacia e a toalha lavando pés sujos de sujeitos soberbos como eu e como a torcida inteira do ego, é muito para a minha empáfia. Posso até lavar os pés dos outros por interesse, pois eu quero um lugar de honra na tua Casa. Mas, tenho dificuldade extrema de fazer por dever. É cansativo demais. Por medo, nem pensar. No amor não existe medo. Ora, se o Senhor é amor, só quero fazer as coisas por amor, sob o teu investimento. Derrama o teu amor em meu pobre coração e me faça de fato um contente lavador de pés, para tua honra e glória somente.
No nome doce do teu Filho amado, Jesus. Amém
Do aprendiz de lava-pés, Glênio Paranaguá
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