quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
O APRENDIZ DE LAVA-PÉS. IV
O orgulho é poeira da minha estrada diária. Todos os dias os meus pés ficam sujos como o pó vermelho da minha arrogância roxa. Sou um altivo inveterado e não tendo a coluna de um invertebrado para me dobrar diante de uma bacia com água a fim de lavar os pés encardidos, fecho os olhos à minha lama, pois o que não aguento mesmo é a areia alheia.
Meu orgulho não me permite encurvar em presença de meus semelhantes. Sou capaz de conviver com a minha empáfia sem nenhum constrangimento, mas não tolero a soberba do meu próximo. A coisa que mais me incomoda é gente orgulhosa.
Que paradoxo! Tenho os pés encarvoados e não suporto os sebentos. Só pode ser mesmo coisa do orgulho vendo em outrem a sua imagem refletida na água turva. Não há quase nada que o orgulho se ressinta mais do que a vaidade de um ser parecido com ele. “O orgulhoso odeia o orgulho nos outros”. Cara de pau! Sê bento tu que és orgulhoso...
Agostinho de Hipona, chamado de o doutor da graça, disse que “o orgulho é o desejo perverso das alturas”. É como se fosse um nanico inchado supondo ser um colosso gigantesco, desafiando como acrobata na ponta de uma vara, a lei da gravidade no topo do Evereste. O pico do mundo é um mundo que pica as entranhas do altivo. Queremos a visibilidade pública no cume da cumeeira.
O Soberano, ao contrário do soberbo, desce dos píncaros da glória e vai até a cava mais funda da história humana para encontrar-se, de cócoras, com uma raça caída e enlameada que se acha superior, a fim de lavar os pés imundos desta gente ensimesmada.
Do sótão celestial ao porão da terra, o Deus encarnado fez uma viagem de humilhação com o propósito de desconstruir o mais terrível inimigo da felicidade humana. O egoísmo soberbo nos impede da celebração, quando os ventos sobram ao contrário.
Thomas Adams foi preciso ao dizer que, “o orgulho lançou o orgulhoso Hamã para fora da corte, o orgulhoso Nabucodonosor para fora da sociedade dos homens, o orgulhoso Saul para fora do seu reino, o orgulhoso Adão para fora do Paraíso e o orgulhoso Lúcifer para fora do Céu”. Posso até concluir igualmente: cuidado com o orgulho, pois só ele é capaz de nos tirar da participação na Casa de Abba como filhos legítimos.
Pedro quase foi lançando fora da escola do lava-pés por causa do seu rompante. Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu não te lavar, não tens parte comigo. João 13:8. Há algo errado em quem não se deixa lavar os pés de sua sujeira diária.
Mas, a questão vai um pouquinho mais longe ainda. O discípulo lavado, agora é transformado em mero lavador de pés. Ao rés do chão, próximo à sua origem no pó da terra, agacha-se um filho do Altíssimo, à semelhança do Soberano humilde, e, apanhando a sua bacia e toalha, se dá conta de sua missão mais elevada no discipulado do Agnus dei, ao lavar os pés poluídos de uma gentinha arrogante.
Querido Abba, esta lição é deveras difícil para mim. Não consigo me reconhecer suficientemente capaz de me ajoelhar perante o teu trono gracioso, para te pedir de coração: faze-me, de verdade, um lavador de pés. Mas não há alternativa. Foi o orgulho que colocou para fora dos recintos mais importantes, toda aquela gente graúda, que se achava maior que as outras pessoas. Por favor, mesmo sendo dificílimo, revela-me o caminho da cruz com Cristo para que eu seja desconstruído nEle, e assim Cristo em mim me substitua nesta tarefa tão humilhante de lava-pés.
No Nome que é sobre todos os nomes, Jesus. Amém.
Do aprendiz de lava-pés, Glênio Paranaguá
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