A escola do encurtamento da pessoa notável é dificílima. Agachar é algo agastadiço para quem se acha majestoso. Todos nós fomos picados pelo vírus que promove a moléstia do espichado, que se estica demais perante os outros anões. Somos uma raça viciada pelos desejos de ampliação e vivemos à procura de pódios e jiraus que nos façam sobressair.
Conseguir desapear o ego do pedestal é coisa complicada. Fazer arriar o auge da fama no plano do pó ou da lama é cabeludo demais para quem se descobre careca de tanto se inquietar com a cobiça dos degraus. Os altares nos alavancam ao alcance dos cumes.
Pedro era uma pedra bem alta. Ele se expunha como se fosse um monte acima dos cimos mais elevados entre os outros discípulos ciumentos. Veja sua indagação, quando Jesus aproximou-se de Simão Pedro, e este lhe disse: Senhor, tu me lavas os pés a mim? João 13:6.
A questão tem um quê de altivez. – eu, no teu lugar, não lavaria os pés de ninguém. Nem mesmo de uma pessoa tão elevada quanto a minha. Quem é o chefe não pode rebaixar-se a este nível insignificante dos serviçais. Aquele que manda no negócio deve se assentar na cadeira do Presidente e nunca se curvar para fazer os serviços de um servente.
No reino de Deus a escala de valor é totalmente diferente da grandeza no esquema humanista. Os reis, neste mundo, têm muitos servos. O Rei celestial veio ao planeta terra para servir a muitos. A ênfase do governo de Cristo é a disponibilidade para o serviço.
O pecado lançou Adão numa plataforma da excelência, isto é, num patamar acima dos céus, tornando-o soberbo; enquanto a salvação conduz o ser humano ao húmus untado com a saliva divina, para humildemente servir à maior cifra dos ensoberbecidos.
O Deus que serve aos arrogantes é o único que pode exigir a prerrogativa de poder salvar os atrevidos que não deixam lavar os seus pés. Só o Homem humilde, por essência, é capaz de tocar na altivez do presunçoso por excelência. Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. Marcos 10:45.
O Deus que se humilha para servir a Pedro, o inquebrantável de dura cerviz e rosto de pedra, acaba abatendo o seu orgulho em chamas, levando-o a lavar os pés dos que permanecem se achando superiores, a fim de matriculá-los na classe do rebaixamento.
A aula da nossa mortificação com Cristo é diária e não tem formatura nem diploma. Quero apenas apontar aqui, duas lições básicas: Deus leva em mais consideração aquele que não se leva a sério em seus direitos, nem se preocupa em ser vip. Quem é humilde nunca saberá que é, pois no dia em que souber algo de sua humildade, aperfeiçoará o seu orgulho.
Agostinho de Hipona deixou essa emenda: “Deus não se torna maior se você o reverencia, mas você se torna maior se o serve humildemente”. Mas cuidado com o show da humildade, pois ele não tem platéia. Se você e eu o estivermos servindo, certamente estaremos lavando os pés de alguns soberbos, tão arrogantes quanto nós. Não discutamos: se somos discípulos de Cristo, que todos nós nos acocoremos e, mãos a obra no novo ano.
Bem-aventurado seja 2011 na vida dos acocorados vivendo para a glória de Abba.
Abba, amado, tu nos criaste totalmente diferentes do que somos agora. O orgulho tomou conta de nós, da cabeça aos pés, e não sabemos como descer deste pedestal. O curso de aprendiz de lava-pés é muito complexo, pois temos exercícios novos e difíceis a cada minuto. Dá-nos a revelação do Homem crucificado que não se importava com as cusparadas na cara, nem fazia conta da coroa de espinhos na cabeça. Ainda que tudo tenha sido muito doloroso, ele não abriu a sua boca para reclamar, nem reivindicou a glória de ser Sua Majestade nos céus.
Quero aprender a lavar os pés dos meus semelhantes com a mesma postura daquele que sendo o Maior se fez o menor, e, como o Servo-Senhor teve aqui, ao se agachar, a condição ímpar de realizar um serviço tão humilhante, sem, contudo, ser humilhado. Concede-me a graça de nunca chamar a atenção dos outros pelos serviços prestados. Obrigado porque tu não és obrigado a cuidar de nós, mesmo assim, tu nunca desistirás de cada um nós, isto é, dos que crêem. Aleluia.
No Nome do teu Filho, o desejado das nações alcançadas pela graça, Jesus. Amém.
Do aprendiz de lava-pés. Glênio Paranaguá.
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