sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

GOTAS DE GENEROSIDADE III


Segundo o pai dos "asnos", generoso vem do latim e significa: "aquele que gosta de dar;
pródigo. Alguém que perdoa sempre; nobre, leal e destemido". Isto é inadmissível na gene
adâmica. O que vemos, aqui, no máximo, é um gênero "eroso", neologismo referindo-se a
alguém cheio de Eros, esse deusinho estúpido de um amor trocado por instintos baratos.
Dar por nada, sem qualquer razão, é coisa de cima. Aqui, em baixo, nos vivemos nessa
tirania louca da troca de favores: é o velho, "toma lá, dá cá". Se você for útil e fizer algum
sentido para os meus interesses egoístas, quem sabe, se não receberá alguma migalha?
Não é próprio da espécie pós-Éden ser liberal. Não é natural em nosso estilo interesseiro
a abnegação ou o desprendimento. Nós temos uma mentalidade de rato ao enchermos ou
armazenarmos a nossa toca com lixo, talvez, porque o rato seja o ser mais próximo da
nossa genética. O fato é que a generosidade ultrapassa os limites do velho Adão.
Para aquele que tem na posse o centro de sua identidade, dar, dói. É um pedaço dele que
é tirado à força. Ele até pode doar o que não lhe serve, o resto ou os trapos do seu uso.
Ouvi do missionário que fez uma campanha numa igreja de classe média alta, para poder
vestir os índios de uma tribo, no interior do Brasil, que recebera daquela gente, mais de
trezentas gravatas. Para quê índio quer gravata? Ainda bem que o sujeito foi esperto:
transformou-as em patchwork e fez saias para as índias, a fim de sair do ridículo.
Lembra-se do Mar Morto? É rico, mas não tem vida. Apenas recebe e nada dá; é um mar
mesquinho. É tesouro incalculável existindo sem qualquer espécie viva pululando em
suas águas. A densidade dos sais minerais o tornou opulento, mas estéril; semelhante a
mulher de Ló. Que tragédia é a vida sem vida, destituída do menor sentido existencial!
Essa outra lei da generosidade, que vamos observar agora, tem a cara de Jesus: Disse
também ao que o havia convidado: Quando deres um jantar ou uma ceia, não convides os
teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem vizinhos ricos; para não suceder
que eles, por sua vez, te convidem e sejas recompensado. Lucas 14:12. Não tem troco.
Nós, os mendigos da graça, precisamos realmente de uma desconstrução radical. Talvez
Matthew Henry, mendigo velho do séc. XVII, possa nos ajudar nisso: "nossos temores
precisam salvar nossa esperança da presunção, e a nossa esperança precisa salvar
nossos temores de mergulharem no desespero". Aprender a dar sem medo de perder,
pode ser uma belíssima lição da semeadura generosa, governada pela esperança.
Desde que Jesus ressuscitou dentre os mortos, não existe mais uma via sem saída ou
uma biografia que não possa ser alcançada pelos seus propósitos eternos. Se você faz
parte dessa turma da madrugada, isto é, se você foi alcançado no íntimo pelo bafo da
tumba escancarada, então, plante sem medo. No amor do Amado, do velho mendigo, Glênio Paranaguá.

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