segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
GOTAS DE GENEROSIDADE IV.
Na propriedade herdada de meus pais, no sul do Piauí, havia uma "figueira-do-mato"
quase centenária, plantada por Papai na década de 1920. O nome científico é difícil de se
pronunciar: ficus luschnathiana, mas era lindíssima; protegendo e refrescando nossa casa
do sol causticante da Filha do Equador, enquanto a embelezava como cartão de visita.
A árvore era exuberante, com sua copa de cerca de 30 metros de diâmetro, onde bandos
de periquitos e outras espécies de passarinhos vinham sempre saborear de seus frutos,
fazendo uma algazarra tremenda e trazendo um ar de festa para todos os que estivessem
hospedado nesse reduto do Paraíso Perdido, na secura do Nordeste Brasileiro.
Mas, por alguma razão, que foge a minha limitada razão, essa árvore lindíssima morreu
durante a seca perversa e horrorosa de 2012. Foi uma morte sofrida para mim. Nunca
pensei que a morte de uma planta fosse plantar tanto desgosto nesse coração sertanejo.
Devo confessar ainda que eu chorei com a falência da figueira. Senti como o profeta
Jonas quando a planta que cubria a sua careca secou-se. É bem verdade que não pedi
a minha morte, que nem ele, pois já tinha morrido com Cristo, mas a minha dor foi grande.
Enquanto estou de férias, no mesmo cenário onde viveu aquela "gameleira" por tantos
anos, sinto uma saudade tremenda desta amiga de muitas histórias e, lembrei-me ainda,
de um episódio que Jesus teve com outra figueira, mas, em contextos bem diferentes.
No meu caso, a minha figueira era selvagem, mas promotora de celebração diária: tinha
folhas, frutos e bandos de passarinhos festejando a vida. A de Jesus era uma espécie de
ficus comestível para os seres humanos, contudo só tinha folhas. Ela era uma farsa, pois
esse tipo de arbusto, quando tem folhas é porque está em plena estação dos frutos.
Ao se aproximar daquela figueira, Jesus percebeu que a árvore blefava. Estava viçosa,
todavia, sem um pomo sequer. Tinha aparência de frutífera, mas nada de fruto. É como
muita gente que demonstra ser colaboradora, contudo não desfruta da alegria em dar.
A generosidade sem o contentamento é como a figueira que só tem folhas. Por isso Paulo
foi incisivo: Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou
por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria. 2 Coríntios 9:7.
Jesus amaldiçoou aquela figueira frondosa porque ela só fingia. Eu estou cabisbaixo
porque a minha velha figueira, ao morrer, matou a festa do contentamento da passarada.
Mesmo assim, quero ressuscitar uma questão da vida que nasce da morte. Qual é o nível
de felicidade que reside no coração quando estou frutificando? Não quero saber qual seja
o tamanho da minha copa, mas quanto de alegria explica este gesto. Como mendigo da
graça estou aprendendo: mais do que ser liberal, preciso fazer um festival de aleluia,
enquanto semeio com esperança. Onde estão os periquitos? Do velho mendigo.
Glênio Paranaguá.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário